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Editoriais

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Liberdade para o vão

É sinal preocupante de indigência social e cultural --que não deveria combinar com São Paulo-- a ideia de gradear o vão-livre do Masp, uma área pública da cidade incorporada pelo projeto inovador da arquiteta Lina Bo Bardi.

Instalava-se naquele lugar, em outra época, o belvedere do Trianon, edifício projetado por Ramos de Azevedo onde, num banquete ali realizado em 1921, o então jovem escritor Oswald de Andrade lançou o primeiro grito do movimento modernista de São Paulo.

Demolido, o Trianon deu lugar ao pavilhão provisório em que se realizou a primeira Bienal de São Paulo, sob os auspícios de Ciccillo Matarazzo. Em 1968, foi inaugurada a nova sede do Masp, criado em 1947 por iniciativa do empresário e jornalista Assis Chateaubriand.

O desenho do projeto partiu da exigência de não haver colunas no local, mantendo-se aberto o belvedere --condição imposta pelo antigo proprietário do terreno, o urbanista Joaquim Eugênio de Lima, quando o doou à cidade.

A solução da arquiteta foi construir o museu com um vão-livre de 74 metros de extensão e assentá-lo sobre uma esplanada --o que deu personalidade ao prédio e o inscreveu na história da arquitetura moderna. "Gostaria que lá fosse o povo, ver exposições ao ar livre e discutir, escutar música, ver fitas. Gostaria que crianças fossem brincar no sol da manhã e da tarde", disse certa vez Lina Bardi.

A cidade, infelizmente, tem sido menos gentil com a obra. O vão-livre tornou-se ponto de drogas; serve de abrigo a moradores de rua. Criou-se tal clima de insegurança que o estande de uma exposição foi desmontado antes do previsto.

Deu-se ensejo a nova onda de debates sobre o local, também usado como espaço de manifestações. Seria, para alguns, a hora de adotar medida drástica: cercar o vão-livre.

Entendem-se as aflições e os inconvenientes da situação. É ainda assim inadmissível que São Paulo, no intuito de enfrentar um problema cuja origem nada tem a ver com o vão-livre, descaracterize patrimônio com justiça tombado nas esferas federal, estadual e municipal.

Os paulistanos têm dado repetidas mostras de que querem mais, e não menos, espaços abertos de convivência. Uma mobilização envolvendo atividades do museu, comunidade e policiamento efetivo é caminho muito mais adequado aos tempos atuais --e livre do trauma que seria colocar o cartão postal da cidade atrás das grades.


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