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Hélio Schwartsman

Comércio e solidariedade

SÃO PAULO - Sempre instigante, Rubens Ricupero fez em sua coluna publicada ontem nesta Folha algumas observações valiosas sobre a noção de progresso da história. Concordo com quase tudo, mas acho que ele foi um pouco apressado ao diminuir o papel do comércio como uma força capaz de promover a cooperação entre os povos.

Steven Pinker sugere que o comércio foi e ainda é um poderoso agente da paz. Embora possa gerar desentendimentos ocasionais, a possibilidade de fazer negócios com estrangeiros altera a lógica por trás das relações entre grupos não aparentados.

Durante a maior parte de nossa história evolutiva, sempre valeu a pena massacrar a tribo vizinha, desde que o fizéssemos em relativa segurança. A existência de outros clãs não apenas não nos acrescentava nada como ainda representava um risco, já que eles poderiam considerar que constituíamos uma ameaça para eles e tentar nos destruir. Na dúvida, atacávamos primeiro. É o que ainda fazem os chimpanzés selvagens.

O comércio muda a matemática que nos punha nessa armadilha. A possibilidade de trocar bens faz com que o outro adquira valor para mim. Já não vale a pena matá-lo à primeira oportunidade. O jogo de soma zero dá lugar a um de soma positiva.

É evidente, como sugere Ricupero, que o comércio não nos fará amar uns aos outros, mas nem sei se isso seria desejável. Se fôssemos todos poços de altruísmo que atribuíssem ao próximo o mesmo valor que damos a nós mesmos, estaríamos em maus lençóis. Em termos de logística social, faz todo sentido que a mãe se preocupe mais com seu filho do que com filhos de desconhecidos e canalize de forma nepotista e pouco solidária mais recursos para seu rebento. A isso nós chamamos de amor.

A humanidade tem melhorado ao longo dos século e penso até que podemos falar em progresso moral, mas creio que existem limites biológicos para até onde podemos chegar.


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