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Opinião

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Águia de duas cabeças

Com distintos interesses regionais, aliança entre Eduardo Campos e Marina Silva tem divergências em quase metade dos Estados

No início do século 20, uma estranha entidade política sustentava-se, com dificuldade, no quadro das potências internacionais. Unido sob a figura tutelar de Francisco José 1º (1830-1916), o Império Austro-Húngaro reunia uma boa dezena de nacionalidades distintas, mal ou bem representadas em dois Parlamentos diferentes.

Havia o Parlamento húngaro, com um primeiro-ministro, onde regras eleitorais restritivas garantiam sua unidade étnica. Mas havia também a Casa legislativa austríaca, com outro chefe de governo, que se mostrava mais permeável à participação de minorias nacionais e reunia, ao lado dos falantes de língua alemã, representantes eslovacos, croatas, rutenos etc.

Os debates se faziam com cada qual falando o próprio idioma, sem intérpretes. Nada mais automático, por certo, do que comparar o Parlamento austríaco com a lendária Torre de Babel.

Muito longe das formalidades e faustos da "belle époque", a aliança entre o PSB de Eduardo Campos e a Rede de Marina Silva tem se assemelhado àquela "águia de duas cabeças" que simbolizava o Império Austro-Húngaro.

Se o governador de Pernambuco parece exercer sobre seus correligionários a influência que é de praxe nas candidaturas de quem dispõe de cargo, poder instituído e nobre linhagem na oligarquia política, o mundo de Marina se aproxima do célebre Parlamento austríaco, com "sonháticos", "pragmáticos", evangélicos, povos da floresta e economistas de alta extração.

As duas cabeças dessa improvável águia tropical têm-se chocado bastante desde o anúncio da união, há menos de quatro meses. Com seus motivos, a Rede quer que a chapa Campos-Marina tenha candidatos próprios nas eleições estaduais. Não sem razões de sua parte, o PSB resiste. As divergências ocorrem em quase metade do país.

Em Minas Gerais, por exemplo, o partido de Campos tem como principal nome Márcio Lacerda, prefeito de Belo Horizonte e aliado de Aécio Neves (PSDB). Fortes bicadas se trocam nas montanhas mineiras. Representantes locais da Rede rejeitam a aproximação dos tucanos; pressionada pelo PSB, Marina desautoriza a afronta.

O mal-estar se repete no Paraná, onde também um tucano, Beto Richa, é apoiado pelo PSB. Em São Paulo, prossegue o dilema, que ameaça ter desfecho inverso. Força-se o rompimento do PSB com o governador Geraldo Alckmin (PSDB), de modo a prevalecer uma candidatura própria no maior colégio eleitoral do país.

É provável que todos se entendam. Quanto ao eleitor, de novo confrontado com candidaturas furta-cor, siglas ornamentais e carrosséis ideológicos, pode imaginar-se numa Viena de opereta, ao som de uma valsa em que Marina e Eduardo demoram a acertar o passo.


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