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Hélio Schwartsman

Braços abertos

SÃO PAULO - Exceto pelo nome brega, "Braços Abertos", vejo com simpatia o plano da Prefeitura de São Paulo para lidar com os viciados em crack no centro da cidade.

É claro que eu mudaria duas ou três coisinhas, para tentar modular melhor os efeitos urbanísticos do uso da área, mas o programa tem o grande mérito de reconhecer, ainda que implicitamente, que a repressão policial não é solução para a questão das drogas. Ela até pode ajudar a inibir o consumo, mas cria tantos efeitos colaterais indesejáveis que não parece exagero afirmar que, no final das contas, agrava o problema.

Um dos bons livros que li no ano passado foi "High Price" (preço alto), de Carl Hart. O autor é neurocientista, professor em Columbia e pesquisa drogas. Ele também é negro, criado nos piores bairros de Miami e que por pouco não se tornou um traficante. Hart combina suas experiências acadêmica e pessoal para sustentar a tese de que quase todas as ideias comumente aceitas sobre drogas estão erradas. Elas se baseiam em má ciência quando não em mitos.

Um deles é o de que basta experimentar o crack uma vez para tornar-se dependente e logo estar vagando pelas ruas esquálido como um morto-vivo. Segundo Hart, mais de 75% dos usuários de crack, a exemplo dos de heroína, jamais se torna dependente da substância. Não é só. Engenhosas pesquisas do autor mostram que mesmo um dependente grave ainda conserva alguma capacidade de tomar decisões racionais, trocando, por exemplo, uma dose que sabe ser de baixa qualidade por recompensa futura. A ideia de que, para obter a próxima dose o viciado rouba, se prostitui e mata, é exagerada.

A dependência é um fenômeno complexo que envolve bioquímica, personalidade e fatores sociais. A ciência ainda está longe de entender como tudo isso interage, mas já sabemos o bastante para ver que não faz sentido acrescentar uma dimensão penal à já difícil vida do dependente.


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