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Saldo desastroso

Guerra do Iraque aumentou isolamento internacional dos EUA, impulsionou extremismo islâmico e não disseminou a democracia

Ao anunciar a saída definitiva das tropas dos Estados Unidos do Iraque, o presidente Barack Obama afirmou que os militares retornam a seu país "de cabeça erguida".

Quase nove anos depois da invasão norte-americana, no entanto, mesmo os mais ardorosos "falcões" teriam dificuldades em apontar o saldo positivo do conflito. As consequências da prepotente aventura do então presidente George W. Bush revelaram-se mais desastrosas do que muitos antecipavam.

A invasão do Iraque detonou conflitos -com características de guerra civil, de um lado, e de guerrilha antiocupação, de outro- que se arrastaram por anos, provocando a morte de ao menos 104 mil civis e de 15 mil soldados de variadas nacionalidades.

A imagem que os EUA tentaram projetar de suas tropas, como forças libertadoras que seriam festejadas pelos iraquianos, não passou de miragem, assim como o pretexto utilizado por Bush para detonar a operação sem apoio das Nações Unidas -a jamais comprovada existência de armas de destruição em massa no país.

Os caóticos anos de ocupação teriam custado, segundo algumas estimativas, cerca de US$ 3 trilhões -valor que supera o PIB brasileiro de 2010, de cerca de US$ 2 trilhões.

A guerra deteriorou ainda mais o conceito dos EUA no mundo islâmico, criou fissuras nas suas relações com antigos aliados e provocou insatisfações entre seus próprios cidadãos, contribuindo para a eleição de Obama.

Não se pode ignorar o efeito positivo da derrubada do sangrento regime de Saddam Hussein, mas os caminhos trilhados para a eliminação do ditador foram abertos por uma iniciativa truculenta e unilateral, que atropelou gestões diplomáticas, impôs perdas inaceitáveis a populações civis e atraiu o terrorismo islâmico para um país no qual não estava organizado.

O que seria o ponto culminante da invasão, a propalada semeadura da democracia pelo Oriente Médio a partir de Bagdá, mostrou-se uma quimera.

A onda de revoltas contra ditadores que varreu, enfim, a região, a partir do início deste ano, não foi inspirada pelo frágil regime instalado no Iraque. Nasceu de insatisfações que se acumulavam entre as populações locais. Completa-se hoje, aliás, um ano da autoimolação do vendedor de frutas tunisiano, o episódio que ficou como uma espécie de marco simbólico do início da Primavera Árabe.

O Iraque que emerge da retirada norte-americana está longe de ser um país pacificado. O pior do conflito sectário parece ter ficado para trás, mas as tensões e a violência perduram, com registros quase diários de atentados.

É de esperar que a assustadora perda de vidas e o enorme custo financeiro, político e moral da guerra inventada por George W. Bush sirvam para desencorajar os EUA a se lançarem em novas aventuras.

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