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Hélio Schwartsman

Abaixo a sustentabilidade

SÃO PAULO - Sustentabilidade se tornou uma daquelas noções pelas quais nutrimos respeito quase religioso. Só um doido poderia ser contra a ideia de que devemos usar os recursos naturais com sabedoria, de modo a preservá-los e transmiti-los a nossos descendentes.

Bem, essa pessoa existe e não é tão fácil classificá-la como maluca. Trata-se do normalmente ponderado e sempre racional físico David Deutsch. Em "The Beginning of Infinity", obra que já citei neste espaço, Deutsch defende a ideia de que a sustentabilidade é ruim para nós. É verdade que, para chegar a essa conclusão, ele redefine um pouco o conceito, mas seus raciocínios são engenhosos e merecem reflexão.

Para Deutsch, um modo de vida que favoreça a criatividade torna a sociedade insustentável. A descoberta de uma vacina eficaz contra vírus diarreicos, por exemplo, derruba drasticamente a mortalidade infantil, produzindo temerárias repercussões demográficas. O segredo é saber lidar com o novo problema.

Segundo o autor, apenas sociedades estáticas são sustentáveis, não para sempre, é óbvio, mas por períodos longos, medidos em vários séculos. A questão de fundo é que mais cedo ou mais tarde surgem problemas que não estavam no "script" e, diante deles, sociedades estáticas simplesmente sucumbem. O que caracteriza a civilização científica é sua capacidade de gerar problemas e resolvê-los à medida que surgem. Foi assim que evitamos fantasmas malthusianos como a superpopulação e a falta de alimentos. Para Deutsch, não há motivo para imaginar que não conseguiremos escapar também à mudança climática e o que mais vier.

No fundo, trata-se uma batalha entre visões de mundo pessimistas e otimistas. Para os primeiros, seres humanos são a doença e a sustentabilidade, a cura. Para otimistas como Deutsch, a sustentabilidade é a doença, e o homem, com sua capacidade de resolver problemas, a cura.


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