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Carlos Heitor Cony

Tanta água

RIO DE JANEIRO - Na primeira vez que fui a Israel, em 1961, o grande assunto era a renúncia de Jânio Quadros. Fui com Adolpho Bloch. Ficamos hospedados no King David. A imprensa noticiou a presença de dois jornalistas brasileiros, Adolpho era bastante conhecido naquele país. Era nome de uma escola e do Observatório Nacional.

O presidente de Israel era Ben Gurion, que proclamara a criação do Estado judeu em 1948. Ele nos convidou para uma conversa. Logo no início perguntou as razões da renúncia do nosso presidente que estava ainda no início de seu mandato.

Com aquela voz inconfundível, Adolpho limitou-se a dizer que Jânio tinha muitos problemas. Ben Gurion ficou espantado, "como pode haver problemas para um país com tanta água". O problema de Israel era ainda --e por muito tempo foi-- o do abastecimento da água para a população e para a agricultura --era então um deserto cheio de pedras--, mas logo tornou-se uma potência na agricultura, vendendo seus produtos para vários países da Europa.

Evidente que nem Adolpho nem eu explicamos a situação, as dificuldades de Jânio eram políticas e ele queria governar com um poder ilimitado. Apesar de tanta água, naquele tempo o Brasil não podia adivinhar que teria, em 2014, o mesmo problema de Israel --que, usando uma tecnologia própria, transformou o deserto num jardim.

Lembro desse episódio num momento em que, apesar de tanta água, atravessamos um período em que os reservatórios de nossas cidades estão secando dramaticamente, sendo São Paulo a principal vítima da situação, que afeta não só milhares de famílias como a própria geração de energia.

Os problemas de dona Dilma são muitos, mas a falta de água revela que seu governo não tem imaginação para resolver uma questão fundamental que Israel resolveu com apenas 13 anos de existência.


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