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Carlos Heitor Cony

Joãosinho Trinta

RIO DE JANEIRO - Veio do Maranhão para o Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Já trazia dentro de si uma alma especial, alma de carnavalesco no sentido não da festa pela festa, mas da alegria do espírito e do gozo do prazer que a arte dá.

O destino trouxe-lhe boas e más notícias. A má notícia é que Joãosinho Trinta, no Corpo de Baile do Municipal, ali pelo final dos anos 50, com metro e meio de altura, jamais poderia ser um bailarino nobre, fazer um príncipe de "Gisèlle" ou um "pas-de-deux" do "Lago dos Cisnes".

Dificilmente seria escalado para um papel importante, porque, entre outros motivos, jamais encontraria uma partner mais baixa do que ele. A coreografia dos grandes momentos do balé clássico exige a proporção machista do homem maior do que a mulher. Sobrariam para ele os papéis característicos, o dr. Copelius, o Hilarião de "Gisèlle", o Feiticeiro do "Lago dos Cisnes", os garçons de "Gaîté Parisienne".

A boa notícia é que, pertencendo ao Corpo de Baile como corista, perdido no meio dos primeiros bailarinos, como Aldo Lotufo, Artur Ferreira e Johnny Franklin, ali encontraria um Departamento de Cenografia que foi o aceno para a glória do Carnaval carioca. Trabalhavam no velho anexo do Teatro Municipal as figuras tutelares de Fernando Pamplona e Arlindo Rodrigues. Faziam cenários, figurinos e adereços para óperas e balés, mas já tinham um pé nas escolas de samba.

Tanto Pamplona como Arlindo decoravam a avenida para o Carnaval e já brilhavam como campeões do Salgueiro. Eram o Pelé e o Coutinho do Carnaval. Joãosinho Trinta caiu por gravidade onde queria e onde o destino exigia. Seria o Garrincha. Não a alegria do povo. Mas, em doses iguais, o povo e a alegria.

PS: Trecho de depoimento para o livro "O Brasil é um luxo - Trinta Carnavais de Joãosinho Trinta".

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