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Ruy Castro

Ou, talvez, por causa dela

RIO DE JANEIRO - Uma lambança em forma de pesquisa produzida há duas semanas pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) concluiu que, para 65% dos brasileiros, "mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas". Dias depois, descobriu-se que os dados estavam errados, que essa era a opinião de "apenas" 26% --mas não antes que os entendidos, por acatá-los sem discutir, verberassem o nosso machismo e atraso. Éramos uma nação de estupradores e não sabíamos.

Nem os estrangeiros. Imagino o divertido espanto com que, lá fora, eles receberam os 65%, ou mesmo os 26% --porque, para a opinião internacional, o Brasil é um país de 7,3 mil quilômetros de litoral com uma média de quatro bundas por metro de areia. É como o vendem os agentes de viagens, de Buenos Aires a Moscou: um festival de nádegas transbordando de calcinhas. E, ao chegar aqui, os turistas não se decepcionam --nas praias, 99% das mulheres abaixo de 70 anos estão com os glúteos de fora, e ninguém liga.

Aos olhos deles, o Carnaval carioca também é tudo que os prospectos dizem: um cortejo de mulatas para 400 talheres. E por que será que, nos EUA, a depilação radical dos baixos meridianos é chamada de "Brazilian wax"? Sem falar na televisão --habituados a programas de sorteios e talk shows em seus países, os gringos devem se maravilhar quando, nas nossas novelas, os casais caem de boca um no outro, em qualquer horário e à menor solicitação.

Com tal permissividade (ou, talvez, por causa dela), o Brasil está longe de ser uma Índia em matéria de estupros. Sim, continuam em vigor o encoxamento nos ônibus e trens, as cantadas grosseiras e o assédio nos escritórios --nada que a lei não possa inibir. Mas é tolice querer que o homem brasileiro se torne um suíço ou um iraniano.

A mulher brasileira, ouso arriscar, também não quer.


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