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De avião, mas com atraso
Dados da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) revelam que as empresas do setor rodoviário perderam 7,1 milhões de passageiros entre 2005 e 2013. No mesmo período, as companhias aéreas ganharam 51,2 milhões de usuários em voos domésticos.
Em 2011, pela primeira vez, a quantidade de pessoas que usaram avião superou a dos que fizeram viagens interestaduais de ônibus. Entre 2002 e 2010, o transporte aéreo --no critério de passageiros-- cresceu 115%, contra uma queda de 31% registrada no rodoviário.
Entre os fatores responsáveis pela mudança, destacam-se o aumento de renda dos brasileiros, em especial a partir de 2007; a oferta, antes restrita, de crediário; e outras situações favoráveis ao setor aéreo, como a isenção de ICMS, que incide sobre bilhetes de ônibus.
O crescimento da procura por aviões, que se compara a fenômeno ocorrido nos EUA na década de 1950, dificilmente deixaria de gerar pressões sobre os principais aeroportos. Eles não estavam preparados para um incremento tão significativo e veloz. A maneira como o governo federal enfrentou a questão ajudou a agravar o quadro.
Hesitante, em meio a preconceitos ideológicos contra as privatizações, a administração petista, na época do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tardou em tomar as medidas necessárias. Quando o fez, já no governo de Dilma Rousseff, cometeu equívocos e dificultou a adesão de investidores.
Hoje, enfim, depois da concessão dos aeroportos do Galeão (RJ) e de Confins (MG), que se seguiu à de Guarulhos (SP), as perspectivas melhoraram. O governo conseguiu obter R$ 20,8 bilhões com os dois aeroportos, valor bastante acima dos R$ 5,9 bilhões mínimos previstos na disputa e indicativo do interesse despertado.
É fato que, devido aos atrasos, parte das obras necessárias não ficará pronta a tempo para a Copa. O problema principal, contudo, não reside nesse evento ou na Olimpíada de 2016. O país precisa avançar na infraestrutura de transportes para atender a sua própria demanda doméstica.
Tal exigência vai além dos aeroportos. Também as rodovias, os portos e as ferrovias estão à espera de mais investimentos para sanar uma defasagem que se tornou crítica e dificulta, além do transporte de passageiros, o próprio crescimento da economia nacional.