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Opinião

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Rubens Barbosa

TENDÊNCIAS/DEBATES

Mercosul: Retórica e realidade

Os interesses comerciais brasileiros devem vir antes de afinidades ideológicas e jamais a reboque de parceiros, como ocorre hoje

Em artigo recente ("Ideia de acabar com o Mercosul é pouco factível e empobrece debate necessário", "Mundo", 23/4), a professora titular de universidade argentina Monica Hirst criticou "um candidato presidencial brasileiro" por ter sugerido "terminar com o Mercosul".

O pré-candidato presidencial em questão, o senador Aécio Neves (PSDB-MG), em nenhum momento propôs o fim do Mercosul.

O que tem sido corretamente notado por ele, em diferentes oportunidades, é que o Mercosul, como mecanismo de abertura de mercado e liberalização de comércio, está paralisado e tornou-se irrelevante do ponto de vista comercial.

O Mercosul representa hoje apenas 8,6% do intercâmbio total do Brasil, depois de ter representado quase 16% do comércio exterior total. O protecionismo ilegal e defensivo prevalecente gera uma atitude introvertida contrária aos interesses do Brasil.

O resultado foi um crescente isolamento do Brasil e do Mercosul das novas formas de comércio --cadeias produtivas globais, que representam hoje 56% do comércio global-- e das negociações de acordos de livre comércio bilaterais e de mega-acordos regionais. O Brasil e o Mercosul concluíram negociação com apenas três países: Israel, Egito e Autoridade Palestina.

O que Aécio Neves tem dito é que a política em relação ao Mercosul deve ser revista e que as regras do bloco deveriam ser flexibilizadas.

Nesse sentido, deveria ser revogada a decisão de negociar acordos com terceiros países com uma única voz, o que impede o avanço das negociações comerciais.

Um acordo abrangente e equilibrado de livre-comércio entre União Europeia e Mercosul, que vem sendo negociado há mais de uma década e tem na resistência argentina um de seus principais entraves, tem merecido todo o apoio da oposição.

Ao defender que o Mercosul pratique o livre-comércio, Aécio Neves não quer o fim da tarifa externa comum. Apesar de imperfeita, a união aduaneira (atual estágio do Mercosul) garante preferências tarifárias para os produtos industriais brasileiros, que sem ela teriam de submeter-se à concorrência aberta com fornecedores de todo o mundo, em especial da Ásia, no momento em que há uma crescente perda de competitividade da indústria, em decorrência do alto custo Brasil.

A crítica que se faz ao Mercosul é sua transformação, por inspiração partidária, de um tratado econômico-comercial em um fórum que ignora totalmente o objetivo inicial dos países membros.

Nada contra a discussão sobre temas sociais e políticos, que aliás já existia antes de 2003, ano em que tudo começou no Brasil...

Os interesses comerciais brasileiros devem vir antes de simplórias afinidades ideológicas e jamais a reboque dos demais parceiros, como ocorre hoje. O Brasil está atrelado ao atraso representado pela Venezuela, Bolívia e Argentina.

O debate sobre o Mercosul é urgente. Não uma discussão pobre, ideológica, mas objetiva e direta, colocando o interesse nacional acima de qualquer outra consideração.


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