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John Dramani Mahama

Meninos massacrados, meninas desaparecidas

O mundo tem sido lento ao reagir ao terrorismo contra crianças africanas. Será que é porque a vida delas parece efêmera, propensa à tragédia?

Mais de 200 meninas nigerianas estão desaparecidas desde 14 de abril. Os detalhes de seu rapto ainda são obscuros, inclusive o número exato. O que sabemos é que todas elas, com idade entre 16 e 18 anos, haviam sido chamadas de volta à escola em Chibok, uma aldeia no nordeste da Nigéria, para fazer uma prova de física. Todas as escolas da região foram fechadas devido a uma onda de ataques terroristas.

Os homens que pegaram as meninas as levaram a acreditar que estavam em perigo. Quando perceberam o que estava realmente acontecendo, 50 conseguiram fugir. As demais estariam sendo vendidas como esposas a terroristas.

Eu li e vi inúmeros relatos que descrevem o sequestro como uma questão de gênero, uma indicação de quão selvagem é a resistência no mundo em desenvolvimento da educação de meninas. Isso não é exato. Em 25 de fevereiro, Boko Haram, o mesmo grupo extremista islâmico que reivindicou a responsabilidade pelo sequestro, invadiu o Federal Government College, uma escola mista de ensino médio em Buni Yade, no norte da Nigéria. Muitos estudantes foram baleados enquanto dormiam, outros foram agredidos até a morte e ainda mais foram queimados vivos. Um total de 59 meninos morreram. As meninas saíram ilesas.

Desde o início do ano, mais de 1.500 cidadãos nigerianos foram mortos em diversos ataques, todos atribuídos ao mesmo grupo cujo nome oficial, ainda pouco conhecido, é Congregação do Povo da Tradição pelo Proselitismo e pela Jihad. O apelido, Boko Haram, na língua local hausa, significa que a educação ocidental é um pecado. Seja qual for a ideologia, não há justificativa para o assassinato, roubo e corrupção de crianças. Essas não são respostas humanas apropriadas para a pobreza, a liderança política, as políticas de desenvolvimento ou as desigualdades sociais. São atos de ódio e terror, pura e simplesmente, e devem ser considerados como tal.

No entanto, o resto do mundo tem sido lento em relação a essa atrocidade. Será que é porque as crianças são pobres? Ou negras? Ou é porque são africanas, e a vida de crianças africanas parece efêmera, predisposta à tragédia? De crianças soldados a noivas crianças, a infância africana se tornou presa dos rebeldes, fanáticos religiosos e traficantes de seres humanos. Isso porque eles sabem que o futuro da África está nas mãos delas. Roubar nossas crianças é roubar nossa esperança; matar nossas crianças é matar qualquer possibilidade de grandeza à qual estivéssemos destinados.

É em momentos como este que temos que definir em que tipo de mundo gostaríamos de viver e, então, defender essa visão. Martin Luther King Jr. escreveu certa vez: "A injustiça em qualquer lugar ameaça a justiça em todos os lugares. Estamos presos em uma rede inescapável de mutualidade, entrelaçados no tecido único do destino. Tudo o que afeta alguém diretamente afeta a todos indiretamente".

A comunidade internacional deve dar início a conversações sobre o flagelo atual do terrorismo no continente africano. Não somente pelo bem da África, mas pelo bem de todos os demais lugares. Em nenhum outro momento da história, nossas fronteiras foram tão fluidas. Em nenhum outro momento, a tecnologia foi tão sofisticada. O lugar onde você está agora pode muito bem ser ao lado da Nigéria, ou em qualquer outro local dos inumeráveis neste mundo onde o terrorismo está sendo tramado ou realizado enquanto digito.

Por isso, comecemos por aqui, com esta declaração: a vida das crianças africanas importa. Se aceitarmos como fato que essas crianças não pertencem só à África, mas também ao mundo, já estaremos fazendo progresso. Já estaremos compartilhando a dor da perda, oferecendo o conhecimento e os recursos necessários para subjugar Boko Haram e trazer de volta nossas meninas.


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