Índice geral Opinião
Opinião
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Ruy Castro

O melhor dinheiro

RIO DE JANEIRO - Sou meio distraído para coisas práticas, e só outro dia, ao pagar alguns sorvetes com uma nota de R$ 50, notei que a onça no verso estava diferente. Algo mudara na posição ou na expressão da bicha. Como não tinha outra para comparar, examinei a nota contra a luz, temendo uma falsificação. E só então fui informado de que fazia tempo que a Casa da Moeda promovera a alteração. "Qual o problema com a onça original?", perguntei. Ninguém sabia.

Em muitos países, o dinheiro passa décadas inalterado -nos EUA, George Washington está na nota de US$ 1 e Benjamin Franklin na de US$ 100 desde que Billy the Kid usava chuca-chuca. Aqui, temos a mania de mudar o design ou a efígie das cédulas como se elas fossem bilhetes de loteria ou selos comemorativos. Mas, pensando bem, gostei que, dessa vez, uma cédula brasileira fosse alterada sem eu tomar conhecimento.

Bem diferente do que acontecia entre os anos 60 e 90, quando não tínhamos sossego. Fomos do cruzeiro para o cruzeiro novo, voltamos ao cruzeiro, passamos ao cruzado, ao cruzado novo e mais uma vez ao cruzeiro, sempre cortando três zeros de cada vez, até que chegamos ao cruzeiro real e finalmente, em 1994, ao real, onde estamos até hoje. Vivíamos na ponta dos pés -de um dia para o outro, o dinheiro que se trazia no bolso ficava obsoleto e não percebíamos.

Nesse período, vi a antiga nota de mil cruzeiros, a poderosa "abobrinha", com Cabral na efígie, ser reduzida a 1/1.000 do seu valor original. E nomes sagrados da cultura, como Machado de Assis, Rondon, Villa-Lobos, Drummond ou Mario de Andrade, estrelarem notas de absurdas 500 mil unidades da moeda nacional, e essas notas não pagarem nem um Chicabon na carrocinha.

O melhor dinheiro, em todos os sentidos, é aquele que você nem percebe que existe.

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.