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Odilo Pedro Scherer

TENDÊNCIAS/DEBATES

A surpresa do Natal

Por que fazemos festa? Nesse Pequenino, nascido de Maria, a esposa de José de Nazaré, o próprio Filho de Deus veio ao nosso mundo e se fez homem

Os presentes já estão comprados, os pacotes, fechados, é surpresa, só podem ser abertos no Natal! As crianças estão ansiosas, ficam felizes... Vovô e vovó ficam emocionados ao ver a alegria ingênua dos pequenos; talvez lembrem que também já foram crianças felizes, quando o Carequinha ainda cantava: "Ó meu bom Jesus, que a todos conduz, olhai as crianças do nosso Brasil"... Como era bom aquele tempo!

A cidade se enfeitou, faiscando em milhões de luzinhas coloridas; trânsito parado nas noites da avenida Paulista, para ver os enfeites natalinos... Lojas cheias, é hora de muito movimento!

Nas igrejas, canções melodiosas, gente que reza, ações de solidariedade para com os pobres.... Parecem dias de um sonho encantador, e todos ficam contagiados, deixam aflorar os sentimentos bons do coração, quem tem fé religiosa e também quem não tem. Todos ficam bons por uns dias, trocam mensagens de paz e de Boas Festas, braços abertos, prontos para o abraço!

E a ceia de Natal, que abundância, com comidas que só aparecem na mesa desta noite, ninguém sabe bem por quê. Que tem a ver o peru com tudo isso, pobre bicho?!

Natal é bonito, difícil encontrar quem não goste. Mas é só isso mesmo? Passa depressa e até cansa. O que se comemora mesmo no Natal?

Por que fazemos festa? Não custa recordar: os cristãos celebram o nascimento de Jesus Cristo, um personagem histórico que está na origem do cristianismo; e todos são convidados a comemorar também.

Foi há mais de 2.000 anos, nas terras da Judeia, no tempo em que o Império Romano dominava aqueles povos. E, por ser quem ele é, não se festeja simplesmente o seu aniversário, mas é comemorado o evento mais surpreendente da história da humanidade.

Nesse Pequenino, nascido de Maria, esposa de José de Nazaré, o próprio Filho de Deus veio ao mundo e se fez homem, um de nós. Deus eterno entra no tempo, o infinito se faz finito, o Todo-Poderoso quer ser criança pequena e frágil.

Nele contemplamos o rosto humano de Deus e o rosto divino do homem. Deus se faz solidário com o homem, assume nossa frágil condição para comunicar-nos uma dignidade altíssima.

Ele é chamado "Emanuel", o que significa "Deus no meio de nós"; é o Salvador, o Redentor da humanidade. Sim, é isso mesmo que os cristãos afirmam e creem a respeito dele; é isso que se comemora no Natal! Talvez alguém diga: "Impossível, isso não é possível! Deus não pode tornar-se humano, sem deixar de ser Deus! Isso não tem o menor sentido!". E eu respondo: fique tranquilo, você não é o primeiro a duvidar. A própria mãe de Jesus quis saber como seria isso.

E muitos, depois dela, também duvidaram e ainda continuam a dizer: "Não é possível, não pode ser!". E não acreditam nas palavras do anjo-mensageiro, como ela creu: "É obra de Deus, não do homem. Não tenhas medo, Maria!".

O Natal comemora a surpreendente bondade divina, que se inclina para o homem, faz-se pequeno, torna-se um de nós para enriquecer-nos com sua grandeza... Se era impossível, para o homem, chegar sozinho a Deus, não é impossível, para Deus, chegar perto do homem. Por que deveria Deus também ficar atrelado aos nossos limites? Poderíamos nós impor restrições ao amor de Deus? Ó surpresa de Deus!

Maravilha de Deus! Boa notícia para o homem! Nada perde o Criador por unir-se à criatura; mas tudo ganha a criatura, ao deixar-se envolver pelo amor surpreendente de Deus! Desejo a todos um feliz e santo Natal de Jesus Cristo!

CARDEAL DOM ODILO PEDRO SCHERER, doutor em teologia pela Universidade Gregoriana (Roma), é arcebispo de São Paulo.

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br

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