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Opinião

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Ruy Castro

A Copa dos sabores

RIO DE JANEIRO - Num debate de que participei há dias, sobre futebol e comida de botequim, promovido pelo Sesc-SP, propus que o Brasil organizasse uma Copa do Mundo da baixa gastronomia. Aí, sim, os fãs do futebol veriam o que é a verdadeira paixão dos fortes. O evento se daria nas mesas dos nossos mais reputados pés-sujos (dos menos reputados, também) e cada país traria seus pratos típicos dessa especialidade, cuja única obrigação é a de ser heavy metal.

A China, por exemplo, inscreveria os seus torresmos de pênis de cobra. O Laos, a salada de barata --barata, não batata. A Argélia, os gafanhotos na brasa. Madagascar, os morcegos ensopados. O Equador, a farofa de formiga. O Japão compareceria com o sashimi --preparado, naturalmente, com o peixe ainda vivo.

O Alasca, representando os EUA, disputaria com seus insuperáveis intestinos crus de foca. O México, com a fritada de grilos. A Noruega, com a bochecha de bacalhau. Portugal nos deliciaria com os túbaros de carneiro ou porco, que são os testículos guisados dos próprios. Mas veja bem, trata-se de um campeonato de sabores, não de exotismos.

O Brasil, como anfitrião, não poderia fazer feio. A candidatura dos previsíveis bolinho de feijoada, caldo de batata baroa e bolinho de aipim com camarão e Catupiry já seria fortíssima, donde pareceria covardia entrar em campo com certas atrações dos botequins cariocas: costelinha de porco na goiabada, escondidinho de jiló, pastel de angu (com recheio de ovo, torresmo e bacon) ou o frango a passaralho (puxado no alho).

Os juízes seriam gourmets, boêmios e bebuns com um nome a zelar. Ninguém poderia votar nos pratos de seus países. A torcida teria acesso aos petiscos, mas quem fizesse ruídos corporais impertinentes seria evacuado do recinto. O risco é o de, ao fim da competição, não haver sobreviventes.


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