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Opinião

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Sem triunfalismo

Primeiros dias da Copa do Mundo dissipam preconceitos e expectativas exageradas; vitória da seleção ajuda a mobilizar torcedores

Foi súbita, depois de um período de quase indiferença, a eclosão do clima de Copa na cidade de São Paulo. Até poucos dias antes do evento, chamava a atenção, num fenômeno que se repetiu por todo o país, a pouca disponibilidade da população para decorar ruas e casas com bandeiras, ou de adotar na vestimenta as cores do Brasil.

Estas vieram na undécima hora, e sua floração tardia haverá de intensificar-se depois do primeiro jogo da seleção. Atribulada e polêmica, mas não sem méritos, a vitória sobre a equipe da Croácia talvez tenha tido o poder de conferir uma dose suplementar de tensão, esforço e pugnacidade aos ânimos ainda desaquecidos da torcida.

Por várias semanas, as tensões localizavam-se em outra parte. O cotidiano das grandes cidades tornara-se quase impossível à medida que toda sorte de greves em setores essenciais vicejava na oportunidade aberta pelo calendário.

Em contraste, deu-se sem maiores problemas o deslocamento dos torcedores até o estádio de São Paulo, em Itaquera; nos aeroportos, nada próximo do temido caos se produziu; por fim, algumas escaramuças entre manifestantes e policiais parecem ter sido fruto mais da energia inercial, proveniente de outro contexto, do que de um espírito sintonizado com o momento.

Verdade que, da confortável situação de quem pagou muito por seus lugares no estádio, parte do público aproveitou a ocasião para expressar, com intolerável grosseria, sua repulsa à presidente Dilma Rousseff (PT).

É legítimo que ocupantes de cargos públicos sejam criticados e até vaiados, mas quando a hostilidade se manifesta como injúria rompem-se os limites da convivência civilizada. Triste sintoma da exasperação que contamina as divergências na política nacional.

Estas não escaparam, aliás, aos observadores estrangeiros, que tomaram bem ou mal conhecimento do quanto o Brasil de hoje se distanciou dos estereótipos complacentes, solares e pitorescos que o cercavam até há pouco.

Dentre estes, um pelo menos se desfez de modo surpreendente. Célebre pelo dispêndio e luxo dos seus desfiles de Carnaval, o país apresentou um modestíssimo, para não dizer pífio, espetáculo de abertura da Copa.

Observadores mais ácidos haverão de comparar o reduzido impacto da apresentação ao notório "pibinho" nacional. Não acrescentou maior brilho ao evento, além disso, a demonstração científica do exoesqueleto idealizado pelo neurocientista Miguel Nicolelis.

Finalize-se com o que já se sabe: dentre as obras prometidas e iniciadas com vistas à Copa do Mundo, parte significativa chega a 2014 incompleta, quando não abandonada. Dissipado o triunfalismo, resta torcer por um bom desfecho, dentro e fora dos campos de futebol.


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