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Marta Suplicy

TENDÊNCIAS/DEBATES

Sete vezes mais cinema

O investimento do governo federal no campo audiovisual e no cinema significa fortalecer a identidade e a imagem da cultura brasileira

Vivemos um momento muito importante para o cinema brasileiro. O programa Brasil de Todas as Telas, lançado no dia 1º pela presidenta Dilma Rousseff, representa o maior investimento já feito pela União no setor audiovisual. Serão R$ 480 milhões para produção, distribuição e programação de conteúdos relativos ao orçamento de 2014 do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA).

Esses recursos novos somam-se a outros R$ 413 milhões anunciados no final de 2013, além de R$ 310 milhões disponibilizados para a implantação e a digitalização de salas de cinema no programa Cinema Perto de Você. Com esses números, o FSA apresenta um plano de investimentos total de R$ 1,2 bilhão. Representa, em valores atualizados, quase sete vezes o montante de 2002, composto em regra por recursos captados com incentivo fiscal.

A Ancine (Agência Nacional do Cinema) passa a cumprir na plenitude o seu papel, fomentando a produção e exibição cinematográfica. Áreas como criação, capacitação, financiamento, regionalização e salas de cinema serão beneficiadas.

Entre todas as formas de expressões artísticas, o cinema é, de longe, a mais completa e fascinante e engloba as outras artes: da literatura à arquitetura, transformando-as em magia; interpretadas nas grandes telas e agora também nos novos meios digitais, que nos permitem ver filmes no celular ou num tablet.

Segundo o cineasta Glauber Rocha (1939-1981), "a câmara é um olho sobre o mundo", além de ser, para Fellini (1920-1993), "um modo divino de contar a vida". O cinema produz conhecimento, dá acesso a culturas diferentes e é um poderoso instrumento de construção de imagem de um país. Nesse sentido, o investimento feito no campo audiovisual e no nosso cinema significa fortalecer e afirmar a identidade e imagem da cultura brasileira.

É o "soft power" que os países desenvolvem e que tem esse mundo mágico como carro-chefe. Basta lembrar o papel de Hollywood na criação do sonho americano, o do cinema italiano para nosso entendimento do espírito de todo um povo e de sua classe trabalhadora, a sofisticação francesa na nouvelle vague, os melodramas mexicanos e o realismo argentino.

Desde o marco de "Limite", de Mário Peixoto, a importância da Companhia Vera Cruz, passamos pelas chanchadas, pelo cinema novo, ganhamos Cannes com "O Pagador de Promessas", vivemos o ciclo do cinema marginal, edificamos um cinema contemporâneo forte (filmes como "Cidade de Deus", "Pixote", "Carandiru", "Tropa de Elite" são apenas alguns exemplos), e, recentemente, comédias com grande bilheteria angariaram a simpatia do público brasileiro.

E ainda temos a nova geração que está criando, no mundo digital, filmes instigantes que realizam o fértil diálogo com a tradição.

Temos um cinema ousado, polêmico e instigante. E como disse o cineasta Cacá Diegues há uma semana: "Talvez estejamos vivendo hoje o período mais fértil da história do cinema brasileiro. Estamos fazendo cerca de 150 filmes por ano, coisa que nunca nos aconteceu antes".

A enorme possibilidade, com a consolidação da Ancine, cria também um novo momento para a Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura, que vai potencializar essa geração de cineastas com mais recursos e estrutura. Somados aos 340 CEUs (Centros de Artes e Esportes Unificados) que estão sendo construídos com salas de cinema nos lugares mais distantes e carentes do Brasil e o início da implantação do Sistema Nacional de Cultura, que permite repasses de recursos com menos burocracia até para pequenas cidades. E ainda temos o Vale Cultura, com potencial para atingir 42 milhões de trabalhadores e injetar bilhões na cadeia da cultura.

Não nos faltam talento, criatividade e determinação para continuarmos implantando projetos tão ousados. Será uma grande conquista do Brasil neste século que, por meio do cinema, expressará o sentido maior da diversidade brasileira.


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