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Ruy Castro

A longa preparação

RIO DE JANEIRO - Perguntam-me se os 7 x 1 contra a Alemanha se comparam à derrota de 1950, por 2 x 1, contra o Uruguai, e à de 1982, por 3 x 2, contra a Itália. Respondo que, apesar do placar absurdo de terça-feira, as duas do passado foram piores. Por três motivos: 1. Não se esperava por elas. 2. Podiam não ter acontecido. 3. O país estava apaixonado por aquelas seleções. E houve outro importante fator.

Em 1950, o Brasil não só já era campeão mundial de véspera como, aos 33 do 2º tempo, com 1 x 1 no placar e jogando bem, continuava a sê-lo. De repente, aos 33 minutos e 32 segundos, com o gol de Ghiggia, deixou de ser. Dali ao apito final, o país teve menos de 12 minutos para se adaptar a uma realidade fora de qualquer script, mesmo que este tivesse sido escrito por um uruguaio.

Em 1982, a mesma coisa. Aos 30 minutos do 2º tempo, com Zico, Falcão, Sócrates, Junior, Leandro e Eder contra a Itália, o 2 x 2 garantia nossa passagem às semifinais e ao título. Subitamente, o terceiro gol do italiano Paolo Rossi mudou tudo. E, mais uma vez, o Brasil só dispôs de 15 minutos para se habituar a uma nova ordem no universo.

Contra a Alemanha, outro dia, foi bem diferente. A partir do primeiro gol, com 10 minutos de jogo, tivemos a eternidade de outros 80 para, à medida que os gols alemães se sucediam, processar toda uma gama de sentimentos. Pela ordem, gol a gol: decepção, choque, dor, revolta, humilhação --milhares de televisores desligados nesse momento --, conformismo e, por fim, a galhofa contra nós mesmos. O fim da partida foi um alívio, um bálsamo, quase um orgasmo.

Hoje vemos que, desde a estreia na Copa, contra a Croácia, já nos preparávamos para o pior. Ou quem sabe essa preparação não terá mais de dez anos, quando começou a ficar evidente o divórcio entre o Brasil e seu futebol?


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