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Hélio Schwartsman
Morte e impostos
SÃO PAULO - Benjamin Franklin escreveu que não há nada de certo neste mundo exceto a morte e os impostos. Talvez pudéssemos acrescentar outros itens à lista, mas a morte e os impostos, além da inevitabilidade, também dizem muito a respeito do país em que ocorrem.
E as tabelas de mortalidade mostram que o Brasil está melhorando. Nas últimas cinco décadas, a expectativa de vida do brasileiro deu um salto de 25 anos. A esperança de vida de um bebê nascido em 1960 era de apenas 48 anos. Agora (Censo de 2010) chega aos mais dilatados 73.
Nem tudo, porém, são rosas nas estatísticas nacionais. O excesso de mortes masculinas na faixa etária dos adolescentes e adultos jovens mostra que a violência está produzindo o que os especialistas chamam de cicatriz demográfica. Outro ponto que chama a atenção é que o Brasil deu grandes passos na redução da mortalidade infantil pelas causas fáceis de combater (saneamento básico), mas não foi tão bem na prevenção dos óbitos motivados por problemas no parto e por malformações congênitas, que dependem de um atendimento médico de qualidade.
No que diz respeito aos impostos, a situação é bem menos alvissareira. A necessidade de uma reforma tributária é quase consensual. Mas esse diagnóstico é de décadas atrás e um conjunto coerente de mudanças até agora não se materializou. E nada indica que um dia virá.
Enquanto isso, sucessivos governos vão adotando remendos que até podem contentar lobbies e resolver problemas de caixa, mas não imprimem nenhuma racionalidade ao sistema. Um exemplo que desnuda a alma do país é o fato de que, enquanto o governo tenta faturar alguns pontos reduzindo parcialmente tributos sobre remédios, igrejas permanecem imunes a toda forma de taxação. Obviamente, há algo de errado com o país que incentiva mais que se reze pelas almas dos mortos do que que se cuide da saúde dos vivos.
