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Hugo Possolo

O voto nulo é um ato político válido?

SIM

Protestar pelo voto nulo

Não concordo com o sistema de representação política do Brasil. Que faço? Visto uma camisa encobrindo a cara e quebro alguma loja? Ou pago uma grana para ir a um estádio para xingar a presidente? Minha alternativa de protesto é o voto nulo. Não garanto que seja um gesto mais civilizado que as opções anteriores, mas certamente combina com minha preguiça de partir para violência física e com meu apego cômico de não desperdiçar palavrões.

Na hora de divulgar os resultados, reais ou de pesquisas, a imprensa costuma somar os votos nulos e brancos. O significado dos dois é diferente. O voto nulo é, em princípio, um protesto, inclusive contra o próprio processo eleitoral. Já o voto branco diz que o eleitor concorda com a decisão da maioria.

Que pesquisa é essa que soma resultados? Contribui com o jornalismo misturar posições de eleitores tão divergentes?

Sem fazer campanha, sem espaço no horário político obrigatório, sem ninguém que personifique essa opção, na última eleição para presidente, no primeiro turno, os votos nulos chegaram a 5,51%. Um número expressivo, que ultrapassava os candidatos menores, que somados não chegaram a 2%.

Esse significado raramente é analisado. Também pouco se fala da abstenção em si, dos que não foram às urnas na última eleição presidencial que, no segundo turno, foram mais de 20%. Claro, engolimos a obrigatoriedade do voto, outra deformação inexplicável. Essa obrigatoriedade afasta o cidadão da participação política e somente amplia seu descompromisso com o ato de votar. Muitas pessoas votam por votar e, depois, nem lembram suas escolhas. Até uma campanha pelo voto nulo faria mais sentido sem a obrigatoriedade. Somente iria até a votação aquele que quisesse votar nulo como protesto.

A urna eletrônica possui uma tecla de voto branco, mas não traz uma opção clara para a anulação. Confusão conveniente para o sistema político, pois dificulta que o contestem. Sem contar que a engenhoca não deixa nem sequer vir à tona o prazer de escrever um recado político, muito menos dá direito à molecagem de um palavrão.

Pior, o que era brincadeira como votar em macaco, rinoceronte ou palhaço da vez, passou a ser usada de maneira cabotina. Foi o aconteceu com o Tiririca que --para além dos que nele votaram por sua popularidade-- atraiu os votos daqueles que o escolheram para fazer piada ou pra protestar de alguma maneira, funcionando como simulacro de um voto nulo. Na verdade, sua validade iludia e elegeu junto uma grande quantidade de obscuros candidatos.

Votar nulo não se trata de atacar o governo ou a oposição, mas o sistema político inteiro, dizendo não à promiscuidade partidária que confunde o eleitor com essa miscelânea de acordos nacionais e regionais que querem reduzir a cidadania a uma negociata por horários na TV.

Quem defende o voto nulo não tem espaço no horário nobre para se manifestar. Isso é democracia?

Basta dar um Google para ver que a Constituição de 88 está remendada e, não é preciso ser muito esperto para saber que os políticos jamais farão uma reforma política que altere as regras de um jogo no qual somente eles estão se dando bem.

Qual a maneira de contestar? Votar nulo! Sempre que defendo o voto nulo, ouço aquela ladainha do fantasma da ditadura que pode voltar e a fatal pergunta do que teria a ganhar anulando meu voto. Bem sei que não quero nenhuma ditadura, mas também sei que essa democracia que aí está não me representa.

E quanto a não ganhar nada votando nulo... Concordo, é isso mesmo. Nenhum marqueteiro trabalharia em campanha onde não se ganha nada.


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