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Opinião

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Jorge da Cunha Lima

TENDÊNCIAS/DEBATES

O jovem Plínio

Cada homem tem sua marca principal. A de Plínio de Arruda Sampaio foi a coerência, quase intransigente, e a fidelidade aos princípios

"Presente!", disseram as pessoas que acorreram à igreja São Domingos, em São Paulo, para a missa e o funeral de Plínio de Arruda Sampaio, em 9 de julho deste ano.

Estavam todos presentes.

A família, com Marieta, seis filhos, cônjuges e descendentes. Todos unidos desde que Deus os juntou em matrimônio e destino.

Todos os amigos da Juventude Universitária Católica, desde que a opção de militância os uniu em torno da fé, ou melhor, de uma profissão de fé em torno dos valores religiosos, sociais e morais.

A comunidade religiosa dos dominicanos, cuja pregação transformou militância em compromisso com a justiça, com a igualdade e com a elevação humana dos homens, sobretudo dos pobres.

Os bispos de São Paulo, numa lembrança de que a hierarquia da Igreja Católica não dispensa nem a hierarquia nem a ação hierárquica dos leigos.

Companheiros políticos do Partido Democrata Cristão, do MDB, do PT, do PSDB e do PSOL, que se mantiveram fiéis, cada um na sua opção pessoal, ao desejo de desenvolver e transformar o país dentro dos padrões da justiça, do avanço social e da moralidade pública.

Mas, sobretudo, e refiro-me a eles com lágrimas nos olhos, aos jovens de menos de 25 anos, que constituíam mais de 50% das pessoas presentes ao funeral naquela manhã fria e inesquecível.

Plínio já me havia confidenciado que desde a sua candidatura a presidente da República, em 2010, ele se tornara um ancião cercado de adolescentes.

Quais as circunstâncias existenciais e humanas que produziram esse efeito milagroso quando a sociedade brasileira --sobretudo os jovens-- afasta-se da atividade partidária como se a política fosse o avesso da esperança e uma miragem perdida da utopia?

Em sua campanha, Plínio falou verdades com o humor que caracteriza os pobres em espírito do "Sermão da Montanha", enquanto os outros, os orgulhosos, nos envergonhavam com as suas certezas. E nos envergonham com as consequências de suas incoerências.

Cada homem tem sua marca principal. A de Plínio sempre foi a coerência, quase intransigente, e a sua fidelidade aos princípios. Coerência é uma virtude que circula pelo sangue e pela razão. No caso de Plínio, circulava no DNA.

Sabem disso todos os que conheceram o velho promotor João Batista de Arruda Sampaio, seu pai. Circulava na razão, que, em Plínio, sempre qualificou a emoção. Sua fidelidade aos princípios tinha uma característica muito pessoal: tinha horror à barganha vil.

Esse expediente, que se transformou hoje na própria razão da sobrevivência política, causava horror ao Plínio, e isso permeou sua convivência com a integridade inata dos jovens.

Aos jovens pode ocorrer, e ocorre com alguma frequência, a radicalidade e, por vezes, a ira, mas eles jamais barganham com a integridade. Por isso mesmo Plínio lhes parecia tão jovem.


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