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Opinião

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Alan Gripp

Um drinque no inferno

SÃO PAULO - "Botamos o Choque para correr, minha linda", diz o manifestante, em tom triunfal, em conversa grampeada pela polícia. "Foi muito lindo, amor, [você] perdeu."

O rapaz se referia ao episódio que acabara de ser exibido numa reportagem de TV, no qual um grupo de "black blocs", ele incluído, ataca PMs da Tropa de Choque do Rio com coquetéis molotov. Sua fala é clara, não necessita de maiores apurações.

Em outro diálogo, este mais cifrado, duas ativistas combinam de "desenrolar com a galera" para conseguir "líquido", que, segundo a polícia, trata-se de gasolina. Com quatro ou cinco litros, dizem elas, é possível fazer uma "oficina de drinques" --ou, de acordo com a interpretação policial, coquetéis molotov.

As gravações fazem parte do inquérito policial que levou a Justiça a mandar prender e a tornar réus por formação de quadrilha armada 23 manifestantes, acusados de planejar ataques violentos durante protestos realizados no ano passado.

A investigação reacendeu o pavio do debate apaixonado e míope sobre os limites de ambos os lados.

O histórico de abuso policial --e de interpretações, digamos, criativas de grampos telefônicos-- permite supor que há exageros nas acusações imputadas aos ativistas cariocas. E, consequentemente, em suas prisões.

Assim como pairam nuvens turvas sobre o caso do estudante da USP Fábio Hideki Harano, preso há quase um mês no presídio de Tremembé, em São Paulo --a polícia ainda não apresentou as provas que o tornaram réus por associação criminosa e porte de explosivo, entre outros crimes.

Mas a essa altura do campeonato é risível o discurso de que os manifestantes são presos políticos de um Estado fascista com o único intuito de criminalizar as lutas sociais.

Por essa retórica, a violência (real) dos manifestantes é apenas resultado da truculência (real) da polícia, e os coquetéis molotov surgem por geração espontânea. Ainda que os drinques sejam apenas drinques.


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