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Ruy Castro

Em vão

RIO DE JANEIRO - Acabo de saber que surgiu no Brasil um movimento chamado "Eu Escolhi Esperar", composto de rapazes e moças que escolheram esperar pelo casamento para fazer sexo. São os sem sexo, só que por vontade própria e por acreditar que, com isso, ficam imunes aos relacionamentos descartáveis, guardando-se para os definitivos. Contando seu público na internet, eles já seriam dois milhões de não praticantes --de 18 a 30 anos, a maioria, mulheres, e, entre os homens, o jogador David Luiz.

Para não cair em tentação, os membros do "Eu Escolhi Esperar" se abstêm de beijos na boca, troca de carícias, masturbação, roupas provocantes e álcool e drogas que tiram a pessoa do sério. Não há referência aos sonhos eróticos --que são incontroláveis e, pelo grau de abstinência desses jovens, devem ser avassaladores. A não ser que eles façam como as solteironas virgens da peça "Senhora dos Afogados", de Nelson Rodrigues, que não dormiam para não sonhar.

Outra notícia surpreendente, esta referente aos católicos, é a volta da missa em latim, com o padre de costas para os fiéis, as mulheres de véu, os homens de terno escuro e uma liturgia perdida desde 1962, quando o Papa João 23 instituiu a missa com o padre de frente e falando na língua local. A missa à antiga já é uma realidade em muitas igrejas do país. Ao ouvi-la, ninguém entende nada, mas, dizem seus adeptos, a fé dispensa esse entendimento.

Ouço falar também da volta das festas de formatura, dos bailes de debutantes, dos concursos de misses, e me pergunto: a continuar assim, onde vamos parar? Se a virgindade e a missa em latim estão de novo na praça, logo teremos a volta do vestido saco, das saias com anáguas e dos sutiãs com barbatanas.

Pelo visto, nós, os garotos de 1968, que pensávamos ter derrubado essas instituições, derramamos o nosso sangue, suor e sêmen em vão.


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