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Opinião

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Hélio Schwartsman

Coisas incríveis

SÃO PAULO - É incrível que a polícia paulista, uma das mais preparadas do país, a crer na propaganda tucana, confunda uma garrafa de Nescau com uma bomba.

Ora, argumentará o contemporizador, é natural que a polícia seja mesmo um pouco paranoica. Todos estamos sujeitos a deformações profissionais e, se há algo pior do que o tira desconfiado, é o policial ingênuo, que acredita na palavra de todos, bandidos inclusos. Eventuais exageros por parte da polícia, segue o raciocínio, são filtrados e corrigidos nas fases subsequentes do processo.

Bem, não foi o que ocorreu no caso de Rafael Lusvarghi e Fabio Hideki, os supostos black blocs de São Paulo. Por incrível que pareça, as fantasias da polícia foram integralmente incorporadas pelo Ministério Público, que ofereceu denúncia contra os jovens, e sancionadas pela Justiça, que decretou sua prisão preventiva e os tornou réus.

É verdade que a posse de explosivos não é a única acusação que pesa contra os rapazes. A peça do MP, lembrará nosso contemporizador, também fala em associação criminosa, incitação, desobediência e resistência. Mas, se a parte supostamente sólida do inquérito, que eram os explosivos, revelou-se um devaneio, como confiar em imputações muito mais subjetivas como incitação ao crime?

Caberia ao MP ao menos raciocinar juridicamente, certificando-se da solidez das provas antes de oferecer a denúncia. Já a Justiça, que serve basicamente para assegurar os direitos e garantias fundamentais, falhou nesse intento, ao suprimir a liberdade de cidadãos sem nem ao menos dispor de uma perícia técnica.

Outra coisa incrível nessa novela é descobrir que existem jovens que defendem teses esdrúxulas como foquismo e revolução socialista, entre outras utopias regressivas desabonadas pela história. Mas ter ideias fora de lugar não é nem poderia ser crime, hipótese em que teríamos de encarcerar uns 90% da humanidade.


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