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Alexandre Wurzmann e Ricardo Costa Mesquita

Museu a céu aberto pede socorro

O Parque Nacional da Serra da Capivara está morrendo e é de responsabilidade do governo federal não permitir que isso aconteça

O Parque Nacional da Serra da Capivara, área de preservação ambiental, é um museu a céu aberto, verdadeira pia de batismo para datar a presença do homem nas Américas, com suas rochas e boqueirões abrigando milhares de pinturas rupestres, que nos colocam ao lado de qualquer coleção de museus ou das famosas cavernas de Lascaux, no sudoeste da França.

O parque, no entanto, está morrendo e é responsabilidade do governo federal não deixar que isso ocorra. Localizado no Piauí, criado em 1979 sob a coordenação da professora Niède Guidon, o parque foi declarado patrimônio da humanidade por conter sítios arqueológicos que permitem preservar 129.140 hectares de um bioma exclusivamente brasileiro, a caatinga.

O parque sobrevive à míngua e as condições de preservação estão piorando ano a ano. É paradoxal que tudo o que já foi conseguido --a demarcação, o levantamento de sítios, a abertura de estradas, as instalações, o lindíssimo Museu do Homem Americano, o centro de pesquisas e os cursos de história e arqueologia da Universidade Federal do Vale do São Francisco-- tenha que ser posto a dormir até que uma nova onda de consciência se levante.

Toda a nossa riqueza lá contida está ameaçada pela caça, já que não há mais como vigiar quem entra e sai do local: o parque deveria ser supervisionado por 270 funcionários, mas hoje são apenas 71, e esse número vem diminuindo a cada ano. As pinturas rupestres presentes em 657 dos 912 sítios arqueológicos cadastrados (e há muitos mais a serem explorados) podem ser depredadas pela falta de fiscalização.

Lascaux, que hoje é chamado de santuário das pinturas rupestres, já esteve na mesma situação. Após muitos lutarem para que a importância das grutas fosse notada, o assunto foi capa da revista norte-americana "Time". Ao ver a real proporção da situação, a França tomou medidas para a revitalização do local, que hoje recebe cerca de 250 mil turistas ao ano.

Em comparação, a serra da Capivara, com um número incomparavelmente maior de sítios e pinturas, que tem potencial para receber muito mais visitantes, recebe apenas 20 mil por ano.

Há um aeroporto local, pronto desde 1998, mas que nunca foi inaugurado. Para chegar lá, é preciso pegar um avião para Petrolina (PE) e depois viajar sete horas de ônibus. Segundo a professora Niède, os hotéis e vários outros geradores de renda para a população local, que também ajudariam muito no turismo, só abrirão quando houver um aeroporto. Enquanto isso, tudo está parado.

Ver o descaso do governo federal com um dos achados arqueológicos mais importantes da América e com o patrimônio cultural e natural da humanidade entristece a todos que foram lá e percebem o seu valor.

É lamentável que, em futuro breve, estudantes não possam ter a felicidade de visitar a serra da Capivara e que venham a conhecê-la apenas por fotos ou gravuras nos livros de história e sites da internet.

É vergonhoso receber da história e da natureza um legado tão maravilhoso e dele não cuidar.


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