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Nota dez

De uniforme laranja e capacete, operários comemoravam a implosão de um prédio na área da favela do Moinho, centro de São Paulo. Sempre suscita esse tipo de ambígua euforia o espetáculo de uma estrutura de concreto desabando como um castelo de cartas, enquanto sobem a fumaça dos explosivos e a poeira da demolição.

Baixaram, domingo passado, a fumaça e a poeira na favela do Moinho. Viu-se então que parte do edifício restava de pé. Não haveria nada de mais notável no relativo insucesso. Mas o prefeito Gilberto Kassab deu um retoque particular e oficial ao acontecimento. Indagado sobre que nota daria à implosão, não hesitou: "Nota dez."

O raciocínio, que tinha lógica mas não era sólido, alicerçou-se no fato de que a implosão visava facilitar a circulação de trens no local. Daí, imagina-se, a nota máxima.

Kassab tem manifestado certa irritação diante das solicitações da imprensa para atribuir uma nota à própria administração. Insiste galhardamente no dez, como se denunciando a vacuidade da pergunta; que outra nota, afinal, queriam que desse?

Existem, em todo caso, critérios mais objetivos, ainda que imperfeitos, para julgar o sucesso da administração municipal. Justiça seja feita ao prefeito. Sua gestão contribuiu para facilitar esse gênero de avaliação. A prefeitura dispõe de um plano de metas, a "Agenda 2012", que agora pode começar a ser confrontado com a realidade.

Aborda variados aspectos do cotidiano da cidade, que continuará difícil, aliás, uma vez que a revisão do Plano Diretor de São Paulo, uma das metas, não foi encetada.

Resultados insatisfatórios podem ser notados, de qualquer modo, nos campos mais diversos da administração. Dos 66 km de novos corredores de ônibus prometidos, apenas 8 foram licitados até o momento. A prefeitura contava criar oito faixas de motocicletas; só uma foi feita. O deficit de vagas nas creches municipais, que se prometia extinguir, passou de 57,6 mil em 2008 para 174,1 mil em 2011.

Das 223 metas, apenas 60 foram cumpridas, enquanto 160 se encontram "em andamento".

Naturalmente, os próximos administradores municipais poderão safar-se de números tão imperfeitos se conseguirem fixar, desde o começo, metas mais modestas.

Modéstia, entretanto, não é o forte de Kassab, ou de qualquer outro político -especialmente quando em campanha eleitoral. Nesses momentos, são sempre nota dez.

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