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Ruy Castro

O risco aéreo

RIO DE JANEIRO - Bellini, zagueiro do Vasco e do São Paulo e capitão da seleção na Copa do Mundo de 1958, não morreu (aos 83 anos, em março último) de consequências da doença de Alzheimer, como se pensava. Sofria de encefalopatia traumática crônica (ETC), um tipo de demência frequente em atletas sujeitos à repetição de golpes na cabeça. Foi a conclusão a que chegaram neuropatologistas da USP, a quem Giselda, esposa de Bellini, doou o cérebro de seu marido. Na verdade, eles já suspeitavam disso, como relatou a repórter Flávia Milhorance no "O Globo" de ontem (16).

As principais vítimas da ETC são jogadores de futebol americano, boxeadores, soldados em batalha e, sabe-se agora, roqueiros do estilo "headbanging". O dano acontece não tanto pelos impactos externos, mas pelo movimento do pescoço, que faz o cérebro chacoalhar e chocar-se contra as paredes da caixa craniana. As cabeçadas no futebol seguem esse padrão: tanto para defender quanto para atacar, exigem esse movimento.

Nos dias de hoje, em que o futebol se reduziu a um festival de "chuveirinhos", não é absurdo que um zagueiro de área rebata cerca de vinte bolas por partida --sem contar as que vai cabecear na área adversária, durante os escanteios. Digamos, 25. Com jogos às quartas e domingos e mais os treinamentos, a média deve estar em cem cabeçadas por semana --quatrocentas por mês ou 4.800 por ano. Em 20 anos de carreira, dos juvenis à aposentadoria, um jogador pode ter dado pelo menos 96 mil cabeçadas.

Bellini atuou por esses 20 anos. Era um zagueiro alto, muito forte e difícil de ser batido no jogo aéreo. Por causa de seus exames --talvez os primeiros do gênero num jogador de futebol--, alguma coisa precisará ser revista para proteger a integridade dos atletas.

Será mais um serviço que Bellini terá prestado ao futebol.


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