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Ruy Castro
Até surgir outro
RIO DE JANEIRO - Há um impressionante vídeo no YouTube: "Lionel Messi - All 401 Gols in Career" [bit.ly/gmessi]. Contém todos os gols de Messi desde que ele começou como profissional, em 2004, até outro dia --pelo Barcelona, pela Argentina e talvez por alguma seleção de solteiros ou casados. Pode ser apreciado com ou sem narração dos locutores. Preferi sem. Não faz bem ouvir 401 gritos de gol em sequência e com sotaque de sopinha-de-massa.
São gols de esquerda, direita, cabeça, calcanhar, bicicleta e até com a mão, de fora ou dentro da área, de falta ou pênalti, na corrida, de rebote, passando por todo mundo, driblando o goleiro ou caído na grama. Poucos são bonitos, porque Messi não é um artista. E daí? Mete a bola para dentro, e isso parece bastar.
Claro que, se a tecnologia quiser, Messi será também um artista. Se hoje ele já se beneficia da alta definição, da câmera superlenta, da lente de aumento, dos lances em raio-X e de efeitos sonoros que permitem a um peteleco troar, é impossível calcular o que os recursos a inventar ainda farão por seu talento. Donde será difícil desbancá-lo como o maior jogador da história --pelo menos, aos olhos de seus jovens contemporâneos.
Em compensação, centenas de gols de Pelé, entre 1956 e 1962, não pegaram o videoteipe e sequer foram filmados. E, para ficarmos apenas nos brasileiros, o que dizer dos muitos gols de Garrincha, Didi, Zizinho, Ademir Menezes, Heleno, Leônidas e tantos outros, de que só temos registros fotográficos? E os dos craques de um passado ainda mais remoto, e de que nem isso temos?
Fica então combinado que, a partir de agora, o maior jogador da história será aquele de quem houver mais registros. Por enquanto, é Messi. Até surgir outro --Neymar, quem sabe?-- que lhe faça sombra em gols e se beneficie de recursos de que ainda nem desconfiamos.