Raquel Rolnik
TENDÊNCIAS/DEBATES
Voto em Dilma no segundo turno
Tenho certeza que eleger Aécio é consolidar no poder interesses que até agora têm impedido mudanças. Por isso, voto em Dilma no 2º turno
Pela primeira vez na vida, não votei no PT no primeiro turno das eleições. Sei que não fui a única a me desiludir, depois de acreditar que o PT seria capaz de reverter a velha forma de fazer política no Brasil.
Mas Aécio Neves tenta nos convencer de que representa a mudança. O que vai mudar com a coalizão liderada pelo PSDB? Na velha forma de fazer política, absolutamente nada. São os mesmos pactos pela governabilidade, a distribuição de benefícios mediada por grupos políticos, o favorecimento de indivíduos (e grupos) dentro e fora do governo.
Esses não são temas que se resolvem com a substituição de um grupo por outro. Então não há diferença alguma entre Aécio e Dilma? Há, sim. Ela se situa em dois temas da maior importância: a política econômica e a forma de relacionamento com a luta social.
Na economia, Dilma defende que o país vai crescer mais se a renda e o poder de consumo da população aumentar. Para isso, pratica aumento dos salários, distribuição de renda, controle dos juros e uma grande presença do Estado, investindo em infraestrutura e gastos sociais.
Aécio Neves, com seu projeto neoliberal, acredita que o mercado dá conta da totalidade da vida social. Cortando gastos públicos, reduzindo subsídios e aumentando os juros, o país vai atrair a confiança do capital financeiro e, assim, alavancar o crescimento econômico.
Essas diferenças têm repercussões na vida das pessoas que vão além do salário e da renda. Para a política urbana, por exemplo, esse é um debate fundamental. Lembremos que, em junho de 2013, a primeira reivindicação que levou milhares de pessoas às ruas foi a da redução das tarifas do transporte público.
Que a eficiência, a qualidade e o preço do transporte público são desafios de nossas cidades ninguém tem dúvida. Mas não há mágica para universalizar o transporte público de qualidade: isso só se faz com investimentos e grandes subsídios.
Isso vale para outros temas centrais da política urbana, como saneamento e habitação. Se o pressuposto --representado pela visão neoliberal de Aécio-- é o de abrir mais um campo de exploração mercantil, então saneamento e moradia não vão atender quem mais precisa, pois quem mais precisa não tem dinheiro para pagar sequer o custo do serviço, quanto mais com lucro! Dilma tanto sabe disso que aumentou exponencialmente os subsídios diretos nessas áreas.
Nos governos do PT, ilhas, brechas e espaços de interlocução foram abertos para dialogar com os setores mais excluídos da população: catadores, quilombolas, sem-terra, sem-teto e muitos outros. Se isso não foi capaz de reverter o centro das políticas, teve o efeito de apoiar experiências e afirmar a legitimidade da luta social e por direitos de cidadania plena no Brasil, ainda inconclusa. Já para o PSDB, governo deve ser território de tecnocratas e movimentos sociais são caso de polícia.
A radicalização da democracia exige mudanças. Tenho dúvidas se seremos capazes de fazê-las sob a liderança de Dilma, mas tenho certeza de que eleger Aécio é consolidar no poder a influência de poderosos interesses que até agora têm impedido essas mudanças. Por isso, meu voto no segundo turno é, sem dúvida, de Dilma Rousseff.