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Começou mal

Iniciada no dia 3, parece distante de seus objetivos a operação conduzida pelo governo do Estado e pela Prefeitura de São Paulo com vistas a uma solução duradoura para os problemas que se acumulam na cracolândia -área degradada, que reúne viciados em crack, na região central da cidade.

O que deveria ser uma ação coordenada, na qual a repressão ao tráfico estaria associada a medidas de caráter social e sanitário, voltadas para o tratamento de usuários, revelou-se, até aqui, um espetáculo de descoordenação, que tem prejudicado a imagem do poder público e da Polícia Militar.

A impressão de que as autoridades estaduais e municipais articulavam-se para lançar uma ação planejada, com previsão de etapas e estreita sintonia entre forças policiais e equipes de assistência, desfez-se logo nos primeiros dias, quando se noticiou que a ocupação fora decidida pela PM, sem a participação dos órgãos da área social.

Não estavam nem mesmo concluídas, ao ser deflagrada a ocupação, as obras de um centro de acolhimento na região, com capacidade para 1.200 viciados -que se promete inaugurar no fim do mês. Com efeito, segundo declarou à Folha, em caráter reservado, um integrante da cúpula da segurança pública do Estado, as ações teriam começado de maneira precipitada.

Conforme essa versão, o prefeito Gilberto Kassab (PSD) e o governador Geraldo Alckmin (PSDB) se uniram por temer que o ministro da Saúde, Alexandre Padilha (PT), anunciasse medidas para enfrentar o problema, deixando-os em desvantagem política.

Em que pesem as dezenas de prisões, a limpeza física das ruas e calçadas e a repercussão midiática, o saldo nestes primeiros dias foi a dispersão de usuários e traficantes, muitos dos quais se transferiram para bairros vizinhos.

Quem andar pelas ruas da cracolândia não terá dificuldade em constatar que, mesmo ali, o consumo e a venda de crack prosseguem à luz do dia. Quanto ao prometido atendimento aos viciados, reportagem publicada ontem por este jornal foi eloquente: levados em vans municipais, alguns deles esperaram por oito horas, na expectativa de serem transferidos para uma clínica de tratamento. Porém, sem conseguir vagas, retornaram às ruas.

A operação ainda está em curso e é cedo para juízo definitivo. O mínimo que se pode dizer, no entanto, é que foi um mau começo.

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