Vera Magalhães
Uma bicicleta para Haddad?
SÃO PAULO - Fernando Haddad ganhou do Senado uma bicicleta para tentar percorrer por trilhas menos esburacadas o caminho da reeleição em 2016. Resta saber se Dilma Rousseff vai deixá-lo pedalar.
O prefeito petista é o principal beneficiário da aprovação da mudança do indexador das dívidas de Estados e municípios com a União, mas a presidente ainda pode vetar a medida.
A administração paulistana calcula que o projeto representa um alívio de R$ 20 bilhões no estoque da dívida da capital, sem o qual Haddad --com popularidade ainda baixa, embora em recuperação-- teria pouco ou nada a fazer nos dois anos de mandato que lhe restam.
A ciclovia que o projeto abre não é apenas para o prefeito. O PT colheu em São Paulo --Estado e capital-- sua maior derrota na disputa pelo menos desde 1994. É vital para o partido recuperar algum tônus muscular no principal centro econômico, político e demográfico do país.
Com a folga no caixa, Haddad poderia tentar implementar alguns dos projetos estruturantes que prometeu durante sua tecnológica campanha eleitoral, em que arcos futuristas cruzavam a cidade e levavam desenvolvimento e empregos a regiões distantes do centro, por exemplo.
Mas nem tudo serão flores para o prefeito. O próprio PT quer colocar obstáculos no seu caminho. Marta Suplicy, de saída do Ministério da Cultura, já avisou às correntes petistas --com as quais Haddad tem menos familiaridade que uma criança que não pedala sem rodinhas-- que está disposta a enfrentá-lo em prévias.
Pode ser bravata da ex-prefeita, reflexo das rusgas com a direção partidária na campanha. Mas, em se tratando de Marta, não se deve duvidar de sua disposição para a briga.
Além disso, o risco de veto à medida ainda pairava ontem, depois de sua aprovação. Em que pese a necessidade de recuperação política em São Paulo, assessores de Dilma lembram que não há dinheiro para distribuir bicicletas a aliados neste Natal.