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Crédito sustentável

Endividamento das famílias no Brasil cresce velozmente, mas ainda se encontra em patamares satisfatórios e não representa ameaça de crise

O veloz aumento do crédito no Brasil nos últimos oito anos tem causado impressão em observadores econômicos, em particular estrangeiros, que se surpreendem com o fato de o total de empréstimos crescer ao ritmo médio de quase 22% ao ano desde 2004.

Tal rapidez, não raro, suscita diagnósticos apreensivos ou mesmo apocalípticos. Nessa visão, o endividamento das famílias teria se elevado a ponto de estrangular o crescimento do consumo e do conjunto da economia.

Há até mesmo quem -desacostumado à realidade brasileira- identifique a formação de bolhas. Ou seja, crescimento inviável das dívidas, o que redundaria em crise aguda de inadimplência.

Esta Folha relatava na terça-feira que, em 2012, o total das dívidas das famílias pode superar a proporção inédita de 50% da renda anual. Mas se observava também que, em relação a economias maduras, tal patamar ainda é baixo. Além do mais, o comprometimento da renda mensal com os pagamentos de dívidas encontra-se longe do ponto crítico.

A notícia, veiculada ontem, de que a inadimplência subiu mais de 20% em 2011, na comparação com o ano anterior, poderia levar alguns a reafirmar temores quanto a um problema mais grave -mas não há razão para isso.

O aumento do crédito no Brasil deu-se a partir de bases muito baixas: passou de 27% do PIB em 2001 para 48% no final de 2011 -percentual equivalente à metade ou até a um quarto do endividamento em economias maduras.

Além disso, o bem-vindo crescimento dos financiamentos imobiliários, ainda minúsculos no Brasil, infla de maneira enganosa algumas estatísticas.

As dívidas aumentam pois imóveis são bens de alto valor, mas esse fato não necessariamente asfixia a capacidade de pagamento das famílias, já que as prestações são diluídas em financiamentos de prazos longos.

É claro que o aumento dos empréstimos e financiamentos deve ser acompanhado com atenção e prudência por parte das autoridades. Mas parece precipitado soar o alarme neste momento.

Mais importante do ponto de vista econômico é observar que o consumo, sim, tem crescido a velocidade incompatível com o aumento do investimento.

Reequilibrar esta balança é uma tarefa que não depende da repressão da oferta de crédito ao consumidor, mas de reformas e reorientações da política econômica no médio e no longo prazos.

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