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País provisório

Dois anos depois do terremoto que provocou a morte de mais de 220 mil pessoas e deixou 2,3 milhão de desabrigados, o que equivale a cerca de 24% da população, o Haiti ainda se encontra em situação extremamente precária.

Dois terços dos desalojados já deixaram os acampamentos "temporários" montados em janeiro de 2010, embora nada indique que tenham encontrado condições muito melhores para viver.

Os que ali ficaram, nas palavras do porta-voz da Organização Internacional para a Migração, são "os mais vulneráveis, os casos difíceis, os casos perdidos" -e é de imaginar o que isso significa numa nação tão miserável e conturbada por desavenças internas.

A posse de um novo presidente democraticamente eleito, Michel Martelly, em maio passado, ainda não assegurou estabilidade política. O principal adversário, o ex-presidente René Préval, controla a maioria das cadeiras do Legislativo e conseguiu vetar, ao longo de 2011, sucessivas indicações para primeiro-ministro, impedindo a formação do governo.

Não espanta, portanto, que, em meio a tantas carências, parte da população decida emigrar, entre outros destinos, para o Brasil, que vem ocupando papel de destaque, desde 2004, na missão patrocinada pelas Nações Unidas.

Não se discute a importância da presença brasileira no restabelecimento da ordem e no apoio humanitário à população haitiana. Ocorre que a situação demanda mais do que ações desse tipo. Vive-se ali uma grave e contínua crise econômica, que condena a maioria da população à penúria.

É preciso, portanto, passar para uma nova etapa, que tem tardado a ser inaugurada -a de congregar esforços internacionais com vistas a uma solução mais duradoura para a economia haitiana.

Não faz sentido o Exército do Brasil perpetuar-se no papel de polícia em Porto Príncipe, sem contar com o apoio estratégico da comunidade internacional para ajudar os haitianos a caminharem com suas próprias pernas.

É preciso que o governo brasileiro providencie um plano de retirada e, ao mesmo tempo, procure pressionar os países ricos, em especial Estados Unidos e França, mais diretamente envolvidos, a lançar um projeto de recuperação econômica que ofereça perspectivas para o Haiti deixar de ser um país eternamente provisório.

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