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Contradição americana

O vídeo em que fuzileiros navais norte-americanos urinam sobre corpos de afegãos mortos, provavelmente terroristas do Taleban, vem somar-se à galeria de infâmias protagonizadas por militares que se desviam dos princípios mais básicos -e não só dos EUA, mas de qualquer país, desde sempre.

Por ser a nação com a maior presença militar -e por estar submetida ao crivo da imprensa e de outras instituições de controle- é natural que os EUA se vejam flagrados com mais frequência em episódios desse tipo.

O desenvolvimento tecnológico dos últimos anos facilitou o registro de situações que antes passariam despercebidas. Foi por meio de fotos digitais feitas pelos próprios algozes que vieram a público em 2004 torturas e humilhações a que eram submetidos detentos na prisão de Abu Ghraib, em Bagdá.

Mas há outros problemas, ainda mais graves, que deixam os americanos em situação constrangedora em matéria de violação de direitos.

É o caso da prisão de Guantánamo, mantida em território tomado de Cuba no final do século 19, onde funciona uma base naval. Neste mês, completou-se uma década desde que o governo norte-americano passou a depositar suspeitos de terrorismo, sem nenhum processo legal, naquela área. A iniciativa ficou como uma marca do governo de George W. Bush, que a título de combater o terrorismo promoveu uma série de medidas de exceção, que feriam garantias e direitos individuais.

Natural que o fechamento de Guantánamo fosse uma reivindicação dos opositores e uma das promessas da primeira campanha de Barack Obama à Presidência. Mas, em razão de injunções políticas e dificuldades práticas, o compromisso não foi cumprido -e a prisão continua a funcionar, sem horizonte próximo para ser fechada.

Ainda hoje, abriga 171 presos. Desses, existe ordem para soltar 80, mas não se encontra país disposto a recebê-los; outros 36 devem ser julgados em tribunais militares; e 48 vivem numa espécie de limbo, pois não há provas contra eles, mas são tidos como muito perigosos para serem libertados.

Ao contrário de atrocidades que podem ser atribuídas a desvios ocasionais, a prisão de Guantánamo é uma aberração institucional numa nação que sempre se apresentou ao mundo como paladina dos direitos humanos.

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