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Ruy Castro

Planos para o futuro

RIO DE JANEIRO - Um querido amigo -vamos chamá-lo de Carlinhos, embora este seja o seu nome verdadeiro- está pensando em se aposentar e dedicar-se a algo que nunca teve tempo de fazer: aprender inglês direito. Não porque tenha planos de ir a esses lugares que os brasileiros sem imaginação sonham visitar, como Las Vegas, Bali ou Dubai. Ele é mais ambicioso: "Preciso estar preparado porque, quando morrer, vou para o céu. E, lá chegando, quero conversar com o Frank Capra".

Carlinhos é a única pessoa que conheço que tem certeza de que irá para o céu. É claro que irá -ninguém mais amigo, terno e amoroso. Ninguém também mais cinéfilo. E, não por acaso, alguns de seus filmes favoritos são clássicos de Frank Capra (1897-1991), como "O Galante Mr. Deeds" (1936), "Do Mundo Nada se Leva" (1938), "A Mulher Faz o Homem" (1939), "Adorável Vagabundo" (1941) e "A Felicidade Não se Compra" (1946), estrelados por Gary Cooper ou James Stewart.

Minha única dúvida quanto à viabilidade desse encontro refere-se, não a Carlinhos, mas ao próprio

Capra. E se o diretor, apesar de famoso por seus filmes cheios de humanidade, não tiver sido considerado apto? Nem quero pensar na decepção de Carlinhos se, ao chegar ao céu, for informado de que Capra foi mandado para outro lugar. Bem, sempre lhe restará a possibilidade de conhecer John Ford (1895-1973), Billy

Wilder (1906-2002) ou outro cineasta de seu céu particular.

Essa conversa com Carlinhos me alertou para a necessidade de eu próprio me preparar para o que me

espera. O que, pelo acúmulo de

pecados, não deve ser o céu, mas, de qualquer jeito, estará cheio de gente interessante.

Acho que vou aprender sioux para conversar com o cacique Touro Sentado; russo, com Rasputin; húngaro, com Vlad Dracul; e italiano, com Lucrecia Borgia.

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