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Esfinge chinesa

Crescimento da economia asiática acima da expectativa anima mercados, mas não afasta de todo o temor de solavancos na desaceleração

Foi com certo alívio que os mercados financeiros receberam a notícia de que a China cresceu 9,2% em 2011. Os dados referentes ao quarto trimestre indicam que a economia chinesa avançava ao ritmo de 9,1% em termos anualizados, o melhor resultado em nove meses. As vendas do varejo e a produção industrial também exibiram crescimento acima da expectativa.

Avaliações mais otimistas consideram esses resultados um indício forte de que a temida desaceleração prosseguiria sem solavancos nos próximos meses, sustentando crescimento acima de 8% neste ano. Mas o cenário ainda é incerto, e não se descarta uma redução mais abrupta e preocupante.

O caso da construção civil, objeto de medidas restritivas do governo nos últimos dois anos, é o mais problemático. A desaceleração nos investimentos é evidente: o setor se expandia ao ritmo de 35% anuais, no início de 2011, e recuou para 11%, ao final. Não há sinal de reversão dessa tendência no futuro próximo.

A importância do setor imobiliário não pode ser subestimada. Além de ser uma das principais fontes de crescimento econômico, estende ramificações financeiras por toda a economia. Boa parte das dívidas acumuladas desde 2009 -o estoque de dívidas cresceu à taxa de 60% do PIB em três anos- se concentra aí. Uma desaceleração acentuada criaria problemas em vários quadrantes, em especial bancos.

Numa perspectiva mais otimista, o governo ganha espaço para afrouxar a política monetária. A inflação, preocupação central de 2011, caiu rapidamente, de quase 6% ao ano em setembro para projetados 2% ou 3% anuais nos próximos meses. Com isso, alarga-se a margem para ampliar medidas recentes de estímulo ao crédito a pequenas e médias empresas e ao consumo.

Mesmo assim, as autoridades de Pequim não se mostram dispostas a aventurar-se com estímulos expansionistas de grande monta. Parecem considerar que a resposta à crise de 2008, na forma de um maciço programa de investimentos bancado por crédito oficial, foi um erro que acabou por reforçar os desequilíbrios atuais. Espera-se que a ação do governo chinês, desta feita, seja mais seletiva e gradual.

No médio prazo, o grande desafio da China será transitar de um modelo centrado no investimento -que representa 45% do PIB, um recorde histórico- para um que dê mais ênfase ao consumo privado. Em certa medida, é o oposto do que precisa o Brasil.

Lá como cá, a mudança de rota é difícil e sujeita a acidentes. Uma consequência importante da transição chinesa é que em algum momento o apetite da China por commodities como ferro e soja pode reduzir-se, com impactos no Brasil.

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