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Escalada protecionista

Argentina burocratiza licenças de importação para tentar manter superavit nas contas externas, com prejuízo para o Brasil

A Argentina recuperou-se da depressão do início dos anos 2000 com extraordinário sucesso, assim como foram extraordinárias as políticas heterodoxas que levaram o país a crescer outra vez. Os governos dos Kirchner, porém, transformaram em rotina medidas que deveriam ser de exceção.

É o que se torna patente agora no país vizinho, onde os desequilíbrios se evidenciam na inflação alta e crônica e nos crescentes deficit das contas públicas e externas.

Na tentativa de preservar a qualquer custo o crescimento veloz (5,6% ao ano sob Cristina Kirchner), o governo foge dos problemas estruturais e recorre a paliativos desastrados.

O mais recente é a escalada protecionista. O governo burocratiza e controla cada vez mais as licenças de importação. Ameaça vetar a compra de produtos estrangeiros com supostos similares locais, o que prejudica empresas brasileiras, que respondem por cerca de 30% das importações argentinas.

É compreensível a aflição da presidente Cristina Kirchner. A crise mundial amplificou as dificuldades. Há fuga de capitais, dadas a ameaça de desvalorização do peso e a inflação alta. O saldo comercial vem minguando desde 2009.

O alto superavit nas contas externas, de quase uma década, deve ser revertido neste ano. O deficit talvez seja diminuto, o que não seria um problema se a Argentina tivesse acesso ao mercado de crédito internacional, na prática fechado ao país desde o calote de 2001.

No esforço de manter suas reservas internacionais e evitar, no médio prazo, uma crise cambial, o governo impõe controles diversos, tributa exportadores e controla importações, o que prejudica o abastecimento de insumos industriais e encarece bens de consumo, com óbvio impacto nos preços.

As autoridades procuram baixar os juros pressionando os bancos. A fim de conter a alta da inflação já em 25%, tentam manobrar sindicatos para conter reivindicações de reajuste, sem muito sucesso.

É verdade que, no segundo mandato, Cristina Kirchner começou a reduzir subsídios ao consumo de energia, água e combustíveis e a tarifas de transporte, que oneravam as contas públicas. O deficit público pode tornar-se crônico -é de fato pequeno, mas preocupante num país em que o sistema de financiamento do governo foi arruinado por sucessivos tumultos.

Apenas medidas heterodoxas não darão conta das presentes dificuldades. O controle de importações, em especial, pode ser ainda mais contraproducente. Tende a dificultar a própria produção doméstica e, sobretudo, a prejudicar o comércio com o Brasil, que não aceitará sem reação essa afronta adicional ao combalido Mercosul.

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