Raul Juste Lores

O casal Trump da China

SÃO PAULO - Doze casas espetaculares com vista para a Grande Muralha deram fama internacional aos empreiteiros Pan Shiyi e Zhang Xin. Premiado na Bienal de Veneza, o condomínio, a uma hora de Pequim, virou spa e hotel de luxo.

Nascidos bem pobres, Pan, de 48 anos, e Zhang, 46, são o casal mais rico de Pequim, responsáveis por vários arranha-céus na cidade. A receita de sucesso uniu os contatos dele com dirigentes comunistas para conseguir terrenos cobiçados e a passagem dela -que sabia onde achar financiamento- por bancos em Londres.

Criaram a construtora Soho e, em 1998, convidaram o artista plástico e arquiteto Ai Weiwei para fazer dez prédios com lojas no térreo e apartamentos e escritórios nos andares superiores. Era o primeiro ano de autorização de propriedade privada de imóveis na China -sucesso instantâneo.

Convidaram bons arquitetos de Japão e Austrália, além das celebridades Kengo Kuma e Zaha Hadid, para fazer conjuntos de até 25 torres, onde jardins e áreas públicas têm qualidade muito superior ao do espaço público no país (e também no Brasil).

"Fazemos o que o governo muitas vezes não faz", disse-me Zhang em um jantar. Admirados e odiados como celebridades, eles dão escorregadas típicas do "made in China". O acabamento de algumas obras deixa a desejar e ainda tiveram a pouca vergonha de construir réplicas das doze casas, uma pirataria autoimposta.

Mas criaram tendência. Hoje, sedes de empresas locais matam de inveja multinacionais americanas. Empresários se dão conta de que a arquitetura traduz em imagens a emergência chinesa. Na Olimpíada, Pequim deslumbrou o mundo com obras do "dream team" das pranchetas. Alguém sabe como se decidiu quem vai assinar as obras da Copa e da Olimpíada daqui?

Padecemos ou desfrutamos a arquitetura ao nosso redor. São Paulo ganharia um presentão de aniversário se seus incorporadores fossem mais criteriosos ao construir nossa paisagem urbana.