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Tensão no Golfo

Ameaça iraniana de fechar estreito de Hormuz parece improvável, mas embargo europeu pode agravar instabilidade em Teerã

Não cabe dúvida de que um Irã armado com a bomba atômica traria ameaça adicional de conflito numa região do globo já por demais propensa à guerra.

Há boas e pragmáticas razões, portanto, para tentar dissuadir aquela teocracia de concretizar o projeto indisfarçável de adquirir capacidade nuclear para uso militar -ainda que ao preço de congelar uma situação desequilibrada, em que vários de seus vizinhos, como Israel, Paquistão, Índia e Rússia, dispõem desse armamento.

O que se acha em dúvida é se a escalada de pressões contra o Irã, acrescida agora do embargo da UE (União Europeia) à importação do petróleo iraniano, será eficaz para alcançar tal objetivo. O retrospecto indica que pressões variadas não têm surtido efeito.

O embargo europeu é uma medida extrema. Suspende o fechamento de contratos novos de fornecimento e permite o cumprimento dos já firmados só até 1º de julho.

Nada menos que um quinto das exportações petrolíferas do Irã se destinam à UE. Trata-se de um golpe nas finanças persas, ao qual se soma o banimento de transações com o Banco Central iraniano, como já fizeram os Estados Unidos. A meta é secar a fonte de recursos para Teerã levar à frente o programa nuclear que alega só ter finalidade civil (produção de energia).

A decisão de embargar as importações se fez acompanhar de amea-ça não muito velada de ação militar: "Não aceitaremos que o Irã adquira uma arma nuclear", afirmaram em comunicado líderes de Alemanha, França e Reino Unido.

A mudança de patamar nas pressões alcança uma nação já em situação de grande instabilidade interna. O presidente Mahmoud Ahmadinejad perdeu o apoio do líder supremo do país, Ali Khamenei.

A poderosa Guarda Revolucionária, controlada pelo aiatolá, possui frota própria de embarcações militares e prometeu fechar o estreito de Hormuz, no golfo Pérsico, por onde passa um sexto do petróleo global. A bravata foi atenuada nos últimos dias, mas pode ser revivida após a ação desafiadora liderada pela Marinha americana, que no final de semana fez circular vasos de guerra pelo estreito.

O modo mais benigno de encarar as investidas dos países ocidentais é atribuir-lhes significado apenas tático. Seu propósito, desse ângulo, seria forçar o Irã a reabrir negociações consequentes com a Agência Internacional de Energia Atômica e dar respostas à equipe de inspetores que chega ao país no domingo.

O único efeito indubitável do embargo, por ora, é o aumento da tensão no Oriente Médio. Crescem as chances de um incidente que transforme a escalada de pressões em crise militar -precisamente o oposto de seu objetivo inicial.

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