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Democracia islâmica

Os resultados da primeira eleição parlamentar após a Primavera Árabe no Egito, que completou um ano ontem, confirmaram sólida maioria para as agremiações islâmicas. A Irmandade Muçulmana obteve 47% das cadeiras da Câmara e foi secundada por um partido mais radical, o salafista Nur, que conquistou 24% das vagas.

Com os votos dados a outras pequenas legendas, os religiosos perfizeram três quartos da principal Casa do Parlamento. Os partidos laicos somaram 15%.

Até o momento, contudo, não há sinal de que o Egito vá converter-se numa teocracia. A Irmandade Muçulmana e suas franquias pelo mundo árabe são amplas coalizões, não muito radicais, com várias facções a disputar hegemonia.

O cenário mais provável, hoje, é que a Irmandade busque os grupos laicos para formar maioria, como fez na Tunísia o moderado partido religioso Nahda. A aliança serviria para diferenciar-se ainda mais dos rivais salafistas, que defendem bandeiras impopulares, como a segregação dos sexos e a proibição do álcool.

Apesar da falta de prática, a ideia de democracia vem ganhando popularidade entre os islâmicos em geral e os árabes em particular. As mudanças de mentalidade são bem analisadas no livro "Quem Fala pelo Islã?", em que John Esposito e Dalia Mogahed esquadrinham pesquisas de opinião feitas pelo Gallup em 35 países islâmicos, entre 2001 e 2007.

Nas nações pesquisadas, significativas maiorias afirmaram que tanto o islamismo quanto a democracia são essenciais. Ajudam a compor o quadro favorável o crescente apoio à liberdade de expressão e à emancipação da mulher, assim como a rejeição da violência.

Ao mesmo tempo, boa parte dos muçulmanos rejeita a adoção pura e simples do modelo ocidental. A maioria insiste em reservar papel fundamental para as tradições religiosas do islã, especialmente a "sharia", em geral traduzida no Ocidente como "lei islâmica", mas que seria mais fielmente definida como "bússola moral".

Um cenário verossímil para o Egito é que a ala moderada da Irmandade prevaleça e siga a trilha do partido AK na Turquia. Mal ou bem, desenvolve-se ali um experimento de democracia sob predomínio de partido islâmico, ainda que não isento dos inevitáveis atritos com os fundamentos seculares do Estado de Direito.

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