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Desafio europeu
Menos de um mês depois de sua recondução ao cargo de primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron começou a cumprir uma de suas promessas de campanha: negociar com os outros 27 países-membros da União Europeia (UE) alterações nas regras do bloco.
Ao fim desse processo, pelo qual espera obter novos termos para a adesão britânica, o líder do Partido Conservador realizará, até 2017, um plebiscito sobre a permanência de seu país na entidade supranacional --honrando com isso outro compromisso eleitoral.
Quando abraçou a proposta de consulta popular pela primeira vez, no início de 2013, o premiê buscava não só dar uma resposta ao crescente sentimento antieuropeu entre os britânicos (40% apoiam a saída da UE), mas também manter coeso o seu partido, cada vez mais fragmentado e cético quanto à integração continental.
Inicialmente rechaçadas pelos governos francês e alemão, mudanças na União Europeia passaram a ser consideradas admissíveis diante da real possibilidade de o Reino Unido deixar o bloco --ação com consequências imprevisíveis, incluindo uma ameaça à própria existência da organização.
Na semana passada, Cameron visitou Amsterdã, Paris, Varsóvia e Berlim a fim de apresentar suas demandas. A sugestão de reforma do premiê inclui afrouxar normas e diretrizes da União Europeia e devolver aos Parlamentos nacionais o poder de deliberar sobre políticas hoje decididas exclusivamente em Bruxelas, sede do órgão executivo supranacional.
O Reino Unido, ademais, pretende se eximir do compromisso de criar uma união cada vez mais estreita com os outros membros e quer evitar que o centro financeiro do país se submeta a uma integração progressiva com a zona do euro.
A iniciativa mais polêmica, porém, talvez seja a possibilidade de barrar a concessão de benefícios a imigrantes da UE --seguro-desemprego e previdência social, por exemplo. Na prática, tal medida criaria classes distintas de cidadãos numa comunidade na qual todos, em tese, são iguais.
Além de controversa, a mudança implicaria a revisão dos tratados de fundação da UE, algo considerado praticamente impossível.
O processo de negociação, de todo modo, deverá ser longo e tortuoso. Contornar a crise existencial da União Europeia exigirá toda a habilidade política e diplomática dos líderes do bloco.