O clima no G7
Correu o mundo uma fotografia de Angela Merkel e Barack Obama na paisagem idílica de Elmau. A chanceler alemã, tendo por fundo típicos pinheiros e cumes nevados da Baviera, abre os braços num gesto de exaltação, enquanto o presidente americano a ouve recostado num banco de madeira.
A cena como que sublinhava dois aspectos centrais da reunião de cúpula dos sete países mais desenvolvidos que ali se realizava: a grandiosidade do ambiente natural, cuja preservação Merkel parece enfatizar, e seu empenho em mover o G7 na direção de medidas mais vigorosas contra a mudança do clima da Terra.
O comunicado final do encontro refletiu o triunfo aparente da chefe de governo da Alemanha. Sob sua liderança, nações cujo progresso nos últimos 150 anos se deu à base de combustíveis fósseis pela primeira vez admitem sem rodeios a necessidade de "descarbonizar" a economia global neste século.
O termo usado corresponde a um objetivo hercúleo: renunciar, nos próximos 85 anos, a extrair a energia relativamente barata estocada milhões de anos atrás no carvão, no petróleo e no gás natural, os maiores vilões do efeito estufa.
A menção obteve excelente recepção nos meios em que se defende um ambicioso tratado contra o aquecimento global, a ser adotado na Conferência de Paris, em dezembro. Ele viria enfim substituir o finado Protocolo de Kyoto (1997), que estipulava tímidas reduções de gases do efeito estufa só para os países mais desenvolvidos.
Desta feita, todas as nações terão de contribuir com reduções de emissões. A meta de manter o aquecimento no limite de 2°C até o fim deste século (0,8°C já ocorreu) não será alcançada sem a participação de países em desenvolvimento como China (hoje a maior poluidora), Índia, Brasil e Indonésia --e dos EUA, por certo, sempre um complicador nas negociações.
Obama, na fase final de seu segundo mandato, vem alterando de forma notável a atitude de seu governo com respeito ao clima, à revelia dos refratários republicanos que dominam o Congresso. Remove-se, assim, um dos obstáculos que levaram ao fracasso da Conferência de Copenhague, em 2009.
Apesar disso, o G7 pouco avançou além da retórica. Enquanto os países ricos não delinearem com clareza como pretendem cumprir a promessa de destinar US$ 100 bilhões anuais para ajudar o mundo a combater os impactos da mudança do clima, um acordo significativo em Paris continuará improvável.