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Sacolinha vazia

O debate público em torno das sacolas plásticas de supermercado alcançou o estágio de combustão espontânea por força da desinformação e do apego a hábitos arraigados. Alguns consumidores reagem à privação dos saquinhos como se lhes estivesse sendo negado o acesso a um direito fundamental, um rematado exagero.

Para começar, não há lei proibindo o uso dessas embalagens. Existe, sim, um acordo entre a Associação Paulista de Supermercados e os governos do município e do Estado de São Paulo para substituir as sacolas descartáveis por recicláveis, pelas quais o cliente terá de pagar R$ 0,19 a unidade.

Apenas as grandes redes aderiram à campanha, o que abrange metade do mercado varejista. No restante do comércio, as sacolinhas continuam à disposição. Garante-se a liberdade de escolha, e quem não quiser pagar pode levar carrinhos, caixas e sacolas de casa.

É certo, por outro lado, que a iniciativa diminuirá a demanda por saquinhos convencionais -12,9 bilhões deles circulam pelo Brasil a cada ano. Menos da metade, 5,2 bilhões, no Estado de São Paulo, onde sustentam 34 mil empregos diretos e indiretos, segundo o setor.

Muitas empresas da área, porém, já reorientam sua produção, como é natural. Em Jundiaí (SP) e Belo Horizonte, fabricantes abandonaram os saquinhos tradicionais pelos biodegradáveis. Ameaçar com falências e desemprego de dezenas de milhares é uma pressão indevida.

As sacolas descartáveis permanecem por um século no ambiente, até se degradarem (as biodegradáveis resistem um par de anos). Poluem os oceanos, rios e lagos. Não foram feitas para pôr lixo na rua; para isso há sacos mais adequados.

Diminuir seu uso não vai "tirar o planeta do sufoco", como propagandeia a campanha público-privada em seu bom-mocismo ambientalista. Muito menos limpar o poluído Tietê, cujo problema é coleta e tratamento de esgoto. Mas é um passo -pequeno- na direção correta.

A maior utilidade da medida está em educar o consumidor para evitar o desperdício de plásticos. Ao obrigá-lo a pagar do próprio bolso pelo mau hábito, põe em xeque o duvidoso "direito" de legar bilhões e bilhões de sacolinhas para as gerações futuras.

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