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Novela grega

Crise europeia se encaminha para desfecho, com perdas de até 70% para os credores privados do mais frágil membro da zona do euro

A Grécia precisa de mais dinheiro para evitar um iminente colapso econômico e político. Não há saída.

Essa é a conclusão do arrastado enredo de negociação dos credores privados com os integrantes da zona do euro. O processo pode ser concluído nos próximos dias com o perdão de € 100 bilhões na dívida do país, uma perda de 70% para investidores.

Mesmo assim, a redução seria insuficiente para cumprir a meta de limitar a dívida grega a 120% do PIB até 2020, objetivo do programa de ajuda acordado em outubro pela liderança europeia. O programa depende de credores privados aceitarem abrir mão de parte de seus direitos em troca de € 130 bilhões em dinheiro novo (da Europa e do FMI) e de medidas radicais de austeridade para os gregos.

O problema é que as premissas do acordo se mostraram por demais otimistas. A queda do PIB grego em 2011, estimada originalmente em 3%, teria sido, na verdade, próxima de 6%.

O quadro para 2012 não é menos desanimador. As dificuldades políticas para cortar o deficit público são compreensíveis, tendo em vista o ambiente de depressão econômica no país. Com a arrecadação em queda, o esforço se torna algo digno de Sísifo. A fadiga do sistema político e da população só faz crescer, e um fracasso do programa pode levar à queda do governo de coalizão formado há três meses.

Parece inescapável, assim, a injeção de mais dinheiro público. Como a maior parte da dívida grega passará para credores oficiais -BCE (Banco Central Europeu) e fundos públicos criados para absorver perdas- após a reestruturação, cresce a pressão para que tais organismos também aceitem uma redução. Estima-se que € 20 bilhões a € 30 bilhões sejam suficientes para fechar a conta.

O BCE é o principal candidato ao esforço adicional, pois detém € 50 bilhões em papéis gregos, adquiridos ao longo dos últimos dois anos. Como a compra foi feita com desconto -os preços de mercado já tinham caído-, uma redução do valor de face desses títulos pode ser feita sem causar perdas efetivas.

As autoridades europeias se reúnem na segunda-feira para definir os novos passos de combate à crise. Podem ser anunciados novo tratado de coordenação fiscal, ações para estimular o investimento e, possivelmente, um reforço para as redes de proteção financeira, hoje limitadas a € 500 bilhões.

Nada disso acalmará os ânimos, porém, se a negociação com a Grécia não for concluída logo. Um colapso do programa de ajuste levaria o país a um calote descontrolado antes de março e poria na mesa a retirada da Grécia da zona do euro.

A Europa recairia na imprevisibilidade, e o mundo ficaria de novo sob a ameaça de uma pandemia financeira.

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