Matheus Magenta
"Geração freezer", era Dilma
SÃO PAULO - Parte da "geração freezer" desejava evaporar para não carregar aquelas infindáveis sacolas das compras do mês que os pais faziam nos anos 1980 e 1990. Para driblar a hiperinflação, a estocagem de alimentos aproveitava energia farta e casas com dispensa. E mão de obra infantil em prédios sem elevador.
Vieram o apagão, a reeducação energética e a transformação dos freezers em vilões. O controle inflacionário atenuou a adaptação dolorosa --não era mais preciso estocar.
Os apartamentos ficaram menores, o congelador é a versão acanhada do freezer, as crescentes jornadas de trabalho achataram o tempo para cozinhar, a bandeirada da corrida de táxi migrou para a conta de luz. Hoje, qualquer compra de mercado não sai por menos de R$ 100.
"Comer em casa sai mais barato" se torna um lugar-incomum, e sair para jantar, uma alternativa. A surpresa com o valor da conta gera o medo de ver o cartão rejeitado pela máquina. Comer fora subiu o dobro da inflação registrada em 2014.
Especialistas já dão conselhos para reaprender a lidar com alta mais acentuada dos preços. Corte supérfluos, encontre produtos mais baratos --conheça mercados com menos variedades que redes soviéticas--, faça parte de clubes de compras, estoque produtos. Como? Onde?
O custo da energia elétrica, que não permite sequer reabilitar o freezer moderno e econômico, subiu tanto e tão rapidamente que gerou trocas de acusações em ambientes familiares. As sacolas plásticas, atuais vilãs do meio ambiente, pesam na consciência e no bolso em compras volumosas sem suas versões biocorretas. O espaço da dispensa deu lugar ao quarto para mais um.
A inflação pode voltar a dois dígitos? O centro da meta ficará mais fantasioso? A queda da taxa é natural, dado o cenário de recessão da queda da atividade econômica, mas não parece suficiente para acalmar remarcadores de preços. A paranoia não ouve ninguém.