Editoriais
Dano duradouro
Graves erros cometidos no gerenciamento do setor elétrico resultaram no tarifaço que a população percebe na conta de luz
O acentuado encarecimento da energia elétrica é uma das muitas marcas do difícil cenário econômico deste ano, como as famílias brasileiras percebem com facilidade e desgosto ao pagar a conta de luz. No acumulado de janeiro a maio, a tarifa subiu 42%; em 12 meses, o aumento chega a 58,5%.
Para piorar, não há sinal de que a escalada vá dar trégua. No começo de julho, por exemplo, os clientes da Eletropaulo (na região metropolitana de São Paulo, incluindo a capital) amargaram a quarta alta no ano. Foram quase 12% adicionais para a indústria, e 17% para consumidores residenciais.
Como o reajuste se repete em todo o país, ainda que com moderadas variações de intensidade, a energia será o principal item a pressionar a inflação em 2015.
Estima-se que, neste ano, o índice de preços vá subir perto de 9%, dos quais mais de 1,5 ponto percentual se deverá ao encarecimento da conta de luz --ou seja, o tarifaço elétrico responderá por quase 20% do forte aumento do custo de vida no Brasil.
Por mais que as autoridades insistam no argumento, esse choque --sem trocadilho-- não é fruto apenas da escassez de chuvas.
Embora a hidrologia tenha sido desfavorável, isso não teria provocado tantos e tamanhos problemas se o cronograma das obras de expansão da geração de energia, bem como de reforço da rede de transmissão, não tivesse sofrido variados e prolongados atrasos.
Isso evidencia a incapacidade do governo de coibir ou punir os fornecedores responsáveis --mais um dos graves erros cometidos pelos últimos governos no gerenciamento do setor elétrico.
Neste seu segundo mandato, a presidente Dilma Rousseff (PT) está às voltas, portanto, com uma herança maldita que legou a si mesma: um custo de energia ineditamente alto, fruto, dentre outros fatores, do fracasso na tentativa intervencionista de reduzi-lo a golpes de martelo no final de 2012.
A melhora das chuvas, que promete se estender para 2016, reduz dia a dia o risco de um racionamento e poderá moderar o preço da energia nos próximos anos, mas não na proporção do aumento.
Está em curso, pois, uma mudança duradoura na matriz energética do país, com perda de peso relativo da geração hidrelétrica para fontes mais caras.
Pouco tempo atrás, a energia barata era um fator de reforço da competitividade nacional. Os erros na gestão do setor elétrico, no entanto, foram além da conta --e hoje o Brasil é o país da energia cara.