Sérgio Dávila
Por um punhado de 'likes'
SÃO PAULO - Você trabalharia de graça quase uma hora por dia, todos os dias do ano, para uma empresa que ganha R$ 60 bilhões anuais com a sua produção e os seus dados? Parabéns: você, eu e 1 bilhão de pessoas fazemos isso para as redes sociais.
Em balanço publicado na quarta (29), o Facebook anunciou receita de US$ 4 bilhões (R$ 13,7 bilhões) no segundo trimestre de 2015. Junto de Instagram e Messenger, da mesma empresa, contabilizou 966 milhões de usuários diários, que por ali ficaram, em média, 46 minutos.
A comentarista de cultura digital do jornal "The Washington Post" compara as firmas que dominam esse meio aos empresários inescrupulosos dos EUA do século 19 e a escravos o exército que as alimenta de conteúdo.
"Uma distopia gloriosa em que todo o mundo trabalha por 'likes' –ou seja, de graça– enquanto um punhado de magnatas de tecnologia lucra", escreveu Caitlin Dewey.
Na definição do especialista em novas mídias Trebor Scholz,"o trabalho digital é como uma festa com pizza e refrigerante de graça, mas vigiada pela Stasi" –uma menção ao terrível serviço secreto da Alemanha Oriental.
Essa relação de tudo por nada, ou por muito pouco, é criticada no livro "Terms of Service - Social Media and the Price of Constant Connection" (Termos de Serviço - Redes Sociais e O Preço de Estar Conectado Constantemente), de Jacob Silverman.
Lançado neste ano nos EUA, defende a tese de que nossa interação com o que o autor chama de gigantes da internet deveria ser de "confronto, cheia de crítica e ceticismo".
Afinal, continua, "o Estado de vigilância operado pelas plataformas de redes sociais ("¦) para minar nossos dados pessoais para ganhos com publicidade é tão abrangente como a espionagem governamental".
Com isso, encerro o quadríptico sobre a internet e os imbecis. A boa notícia é que Hélio Schwartsman volta à ativa nesta semana.