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Fragilidade na balança

Deficit no comércio exterior em janeiro não chega a preocupar, porém serve como convite à reflexão sobre a dependência diante da China

Ainda não há motivo para alarme com o surgimento de um deficit de US$ 1,3 bilhão na balança comercial brasileira no mês de janeiro, muito abaixo do padrão de 2011 (superavit mensal na média de US$ 2 bilhões). O resultado de janeiro decorreu de limitações pontuais; mesmo assim, suscita algumas interrogações.

As exportações agrícolas tendem a ser menores no primeiro trimestre. As vendas de minério de ferro, outro item importante da pauta de exportações, caíram 35% por causa de problemas temporários de transporte causados pelas chuvas em Minas Gerais.

Os exemplos da agricultura e do minério servem, no entanto, para não deixar esquecer que o saldo comercial brasileiro depende cada vez mais de poucos parceiros e poucos produtos. A China aparece em destaque, com 17,6% de nossas exportações, parcela da qual quase 90% são minério, soja e petróleo.

Outro padrão preocupante é a grande concentração das exportações em produtos primários e em manufaturados de baixo valor agregado. O Brasil caminha para uma "commoditização" de sua pauta de exportações, por falta de produtividade e qualidade nos setores de ponta da indústria.

Os alicerces do crescimento brasileiro são frágeis. Em sua base se encontra a alta dos preços das exportações, que subiram 60% mais que as importações desde 2005.

Sem esse efeito, que decorre da demanda chinesa, o saldo comercial do ano passado se converteria em deficit de US$ 30 bilhões.

Os altos preços das vendas externas de matérias-primas constituem uma vantagem transitória, que precisa ser aproveitada logo. O país pode, por exemplo, usar as divisas acumuladas para modernizar o parque industrial, de modo a mitigar a dependência de commodities ao longo do tempo.

Há efeitos colaterais dessa dependência bem documentados internacionalmente: o câmbio se valoriza, surgem bolhas de consumo e, no mercado de imóveis, disparam os custos de produção.

A experiência brasileira segue o padrão. Os custos ficam cada vez mais altos, a competitividade industrial está em franca queda, a parcela do consumo atendida por importações só faz crescer.

Pouco se faz para reverter a tendência. O risco de definhamento industrial não será reduzido com a proteção pontual em setores ineficientes, sem exigir uma clara contrapartida em inovação e investimento por parte dos beneficiados.

O que aparece hoje como virtude nacional pode desfazer-se tão rápido quanto uma nuvem. O governo precisa pensar e agir de forma mais estratégica, em vez de apenas aproveitar a onda das commodities. Sem um plano de ação e algumas braçadas vigorosas, até o surfista mais habilidoso termina encalhado na areia.

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