Índice geral Opinião
Opinião
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Hélio Schwartsman

Projetando bebês

SÃO PAULO - O Brasil registrou seu primeiro caso de "designer baby", isto é, de bebê cujas características genéticas foram selecionadas para um determinado fim. Gerada por fertilização "in vitro", Maria Clara nasceu sábado passado com a missão de fornecer células-tronco que poderão ajudar a tratar a irmã, Maria Vitória, que sofre de uma doença hematológica.

Apesar de essa ser uma situação totalmente "do bem" e que não envolve nenhum risco para a jovem doadora, a simples possibilidade de selecionar um embrião com certa característica causa polêmica entre bioeticistas.

Uma forma crítica de descrever o caso é perguntar se seria ético gerar uma vida para servir como banco de tecidos a serem utilizados em procedimentos médicos. Quantos arriscariam um "sim"?

Um modo mais filosófico de dizer a mesma coisa é afirmar que o imperativo categórico kantiano veda a utilização de outro ser humano como um meio para um fim, e não como um fim em si mesmo.

Embora eu seja fã de Kant, acho que, nessa formulação, ele extrapolou. Existem milhares de situações em que as pessoas querem ser usadas apenas como meio e isso é perfeitamente legítimo. Quando eu vou a uma loja comprar chicletes, sou, para o dono, apenas uma ferramenta de ganhar dinheiro, enquanto ele, para mim, é só o instrumento que me fornecerá a goma de mascar. Nenhum de nós tem interesse em ser tratado como um fim.

A grande questão é até onde podemos chegar. Selecionar um embrião que não sofra de uma doença genética e, ao mesmo tempo, possa ajudar a irmã doente não é uma decisão difícil. Mas, e se estivéssemos falando de fornecer um rim? E o que pensar de "melhorias genéticas", como produzir bebês mais bonitos ou mais atléticos ou mais inteligentes? Não descarto, a priori, nenhuma dessas possibilidades, mas é preciso reconhecer que elas colocam questões difíceis.

helio@uol.com.br

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.