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A fila anda

Cresce a quantidade de transplantes realizados no Brasil; novos avanços dependem de treinamento e de redução da burocracia

O número de transplantes de órgãos e tecidos mais do que dobrou na última década no Brasil, alcançando 23.397 procedimentos em 2011, segundo o Ministério da Saúde. A cifra representa quase 8% dos enxertos feitos no mundo.

O avanço se deve principalmente ao aumento na captação dos órgãos, na qual o governo federal vem investindo mais. Em 2011, as doações efetivas chegaram a 11,4 pessoas por milhão de habitantes. A meta é chegar a 15 até 2015, taxa semelhante à de países que são considerados referências em doação de órgãos.

Há um detalhe importante. Parte do bom desempenho brasileiro se deve a uma cifra que não merece comemoração: a grande proporção de mortes encefálicas em consequência de traumas, notadamente os provocados por acidentes de trânsito e armas de fogo.

O tempo de espera por um órgão caiu 23% (na média) em um ano. No caso do transplante de rim, a redução foi ainda maior: 42%.

Não obstante os avanços, em muitos casos a demora para conseguir um órgão se conta na casa dos anos; 27.827 pessoas ainda aguardam por um transplante na rede pública de saúde.

É necessário, portanto, seguir investindo na capacitação de equipes de saúde, tanto para persuadir a família a doar os órgãos de seus mortos em situações violentas (emocionalmente delicadas), como para fazer a coleta do material. O diagnóstico de morte encefálica não é trivial e precisa ser muito bem feito para que não haja perda de confiança no sistema.

Um ponto menos mencionado é o das doações intervivos. À medida que o país reduzir o número de mortes por trauma, será preciso encontrar alternativas. O aumento da prevalência de doenças como o diabetes também permite antecipar um aumento da demanda.

Nesse contexto, ganham relevância as doações de parentes dispostos a ceder um rim ou uma fração do fígado ao paciente. O problema aqui é que a legislação brasileira, com o correto objetivo de combater o mercado clandestino de órgãos, burocratiza demais o processo e cria empecilhos a novas modalidades de transplante, como as doações pareadas.

Nesse tipo de procedimento, se houver compatibilidade cruzada (isto é, o doador do primeiro par com o receptor do segundo, e vice-versa), realizam-se as duas ou mais cirurgias concomitantemente. Na semana passada, o jornal "The New York Times" descreveu uma doação pareada de 30 rins, que envolveu 17 hospitais de 11 Estados. No Brasil, seria preciso ir à Justiça para fazer a troca, pois a lei, em princípio, não admite doações entre vivos não aparentados.

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